Sou eu que vos escrevo, Ninguém. Não me conhecem pois já não estou entre vós. Aos que comigo conviveram e a quem ainda amo, perdão, mas não me reconhecerão.
O que me faz sentir não acabou! Percorri a vida de humano em paralelo com as falhas e os erros e nas virtudes que almejei conquistar muitas não as consegui. Subi as noites na escalada dos frios solitários que intimidavam o meu querer.
Enquanto existi, soube amar e reconheço que fui amado, embora por vezes não o demonstrasse.
Agora que estou deste lado, o lado que desconhecem e que sobre o qual não me posso alongar, vejo, com outra percepção, as coisas infundadas da vida, como as materiais que tanta importância lhes dão, um pouco como lhes dei enquanto aí estive.
De nada adianta. Quando o fim da estrada chega ficam todos perdidos. Só nos restam os amores imperfeitos que, de abandonados nos desagregam dos seus corpos e da sua própria alma. Resta-nos os poucos amores-perfeitos, que, de tão poucos serem, são fáceis de reencontra-los.
É então que a mudança acontece. Física. Voltamos ao mundo transformados de uma qualquer espécie na esperança de um acesso. Mas é como uma cilícia, não nos reconhecem e nada podemos dizer porque não temos voz. Os nossos gestos são ignorados ou até interpretados de forma austera. Matam-nos de medo!
Voltamos (somos muitos por aqui, mas nem todos querem ou podem voltar) repetidas vezes, sob disfarce, vestindo outras peles e o melhor que recebemos é um desprezo monumental. Estamos tão próximos, mas tão distantes no Universo em que nada acontece.
Vemos alguma saudade partir, vemos o quanto as pessoas mudaram sem se aperceberem. Damos uma mão de ajuda sem que a sintam e nunca conseguimos dizer, ou fazer, o que em vida ficou por acontecer…
Seja Gato ou Cão, Pássaro ou outro animal qualquer nunca o saberão, mas estarei sempre por aqui para vos acompanhar até ao dia em que vos tenha que receber!
Aproveitem a vida, a vossa vida, ao máximo, enquanto puderem, entendam essa regra porque depois de nada valerá…
Não voltarei a dar um sinal, portanto, não voltarei a escrever…
Ninguém
31/12/07
4 comentários:
Será este um desabafo de uma alma que vagueia meio perdida nos corredores do esquecimento?
Talvez...
Se reparares bem, verás que não estás sozinho, pois existem muitas mais em teu redor.
Se bem entendi(e espero que assim não seja), esta foi a tua ultima missiva, um ultimo aceno aos que por ti se cruzam sem te "verem"... será?
Seja como for, continuo a por aqui aparecer, mesmo que não to diga...
Um feliz 2008
Beijo
Acho que tenho que voltar aqui para te reler, amanhã.....
Desejo-te um 2008 com muita saúde e paz...
Um beijo
Voltei para te reler...
... e gostava que o "Ninguém" voltasse a escrever....
Bom Ano, Paulo
Este "ninguém", também pode ser, a voz da nossa consciência, que com a pressa em que vivemos, não conseguimos ouvir!...
Beijos
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