segunda-feira, julho 20, 2009

Pastor de índoles

Em absinto puro
guardo o meu rebanho
de animais incontáveis
guardo as minhas loucuras
longe dos apogeus
dos segredos
e das fabulosas mestrias do destino
guardo tudo
escondo como escondo a tristeza

e na minha aldeia
de pastores da vida
dançamos aos tormentos
e nas vozes do tempo
espantamos os males desse caminho
que urge caminhar
entre arbustos e animais
entre dores e odes
onde o grito se abafa

antes do pastoreio
nasce o dia
e reza-se ao céu
na demanda do pleno.

domingo, julho 19, 2009

À procura dos dias

À procura dos dias perdidos
embaraçado e preocupado
anda Leonardo
vestido na pele de ocupado
outras vezes de um leopardo
nesses dias já esquecidos.
Leonardo rompe as noites
deste verão quente
que não há quem aguente.

À procura de um não sei quê
de uma trança de boneca
ou de um pingente
roça e roça na soneca
e enquanto dorme não vê
que o que procura é gente
ou um fardo
de sabores incontidos
espalhados nos dias iludidos

Leonardo – boneco de porcelana
homem mistério ou personagem
perde os dias à procura
da sua própria linhagem.

sábado, julho 18, 2009

Sonho de Menino

Em menino quis o sonho
construí-o em pedaços de papel
e em segredo imaginei o caminho
em que o cumpriria.
E em rapaz lutei
com ânsias de desejos ancorados
no rio da minha cidade
oh! Tejo meu companheiro
dos meus passos dados sozinho
e no rosto a mesma lágrima de menino
em sobressalto de um tempo
que a fugir se consome
e a vida – essa sentinela
sem pudor e sem nome
corre ao meu lado
e arruma o passado.
Em menino sonhei
ouvir a canção
com a letra que escrevi
na voz do trovador.
Ainda hoje trago o sonho escondido
ainda olho o Tejo
e num forte desejo
meio real meio perdido
abafo a dor
de ter crescido.
Os meus olhos são de menino
num corpo transformado
que nas noites adormece
viaja e brinca
no regaço do limiar
onde espero encontrar
o ansiado caminho
que cumprirá o destino
do sonho de menino.

sexta-feira, julho 17, 2009

A morte do guerreiro

Hoje quis ser guerreiro
marchar contra o vento
e de armas em punho
cerrar os dentes
e combater, combater.
Mas o meu émulo
de tão transparente ser
tornou-se invisível
desaparecido e misterioso.

E a força cresceu em mim
o meu corpo musculou-se
alimentado do torpe desejo
de sangue e dor
cegando o meu redor
em marcha quis ser guerreiro
a tempo inteiro
sem pavor nem misericórdia
nesta guerra sem igual.

Hoje quis desbravar o meu íntimo
e na pele de guerreiro – sem armas
entendi o pensamento
esse émulo distante e invisível
e a guerra acabou com o guerreiro.

quinta-feira, julho 16, 2009

Convite "Continuando assim..." Teresa Queiroz - Lisboa



A autora, Teresa Queiroz, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Continuando assim...”, a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, Lisboa, no próximo dia 18 de Julho, pelas 19:00.

Obra e autora serão apresentadas pela Dr.ª Isabel Basto.

Entrada Livre

quarta-feira, julho 15, 2009

Crónica de escárnio e maldizer

A contar até 10 (dez) depressa aprendi mesmo antes de entrar para a escola. Já a ler, o caso mudou de figura, até porque era mesmo das figuras que procurava, porque elas tinham o condão de me entreter. Já se vê que ler, a bem dizer, as letras soltinhas e a sós, nunca foi a minha primeira escolha. Mas a vida continuou.

Depois vieram os desenhos animados, a minha grade paixão da época, lembro-me do Tim-Tim e da sua inseparável cadela de nome Milú. Quando o faro (da Milú) lhe estimulava era sinal de petisco. Ou quando o Tim-Tim andava na calçada lá aparecia a dita a abanar o rabo e a lamber toda gente (ou a que mais interessava, a tal gente do petisco) e claro, nada a fazer, já que estas coisas são da génese do animal.

Hoje, sob o disfarce de desenho animado, há por aí adultos que os imitam (as técnicas bem se vê) com uma naturalidade estonteante.

Mais tarde, porque não era muito bom a ler e a interpretar o que lia, continuei agarrado a televisão, a ver sapos (sem os engolir) naquele palco mágico dos Marretas. Gostava particularmente dos velhos que, sempre atentos a tudo e a todos, apareciam, na altura das fogueiras inusitadas, sempre pouco brandas, para aludir os seus fervorosos comentários, feitios ou maus feitios desculpados pela idade avançada e pelas marcas da vida.

Hoje, sem pretensões a qualquer disfarce, é vê-los por aí e acolá sempre colados a uma boa polémica actual como se a moda nunca mudasse.

Coisas iluminadas ou uma espécie de escárnio e maldizer. Dizem.

segunda-feira, julho 13, 2009

Claridade da Lua

A Lua é enfeitada pelo vestido de noiva que, em segredo, veste. De branco, com o significado da candura, a Lua passeia pela magia dos sonhos. Aconchega-se, timidamente, na mais bela noite e emerge na esperança de dar vida, e alguma realidade, aos sonhos dos peregrinos que desfrutam a paisagem.

A claridade da Lua é um caminho etéreo e simbolicamente, um destino onde o auge da felicidade reside.

Essa mesma luz que ilumina caminhos é feita de esperanças enraizadas nos suculentos desejos dos mais nobres mortais.

De beleza feminina, a Lua, envolve-nos num espectáculo mundano e a sua claridade é o retorno, dessa ímpar comunicação, eterna e silenciosa, como a que, entre dois namorados decorre, com uma simplicidade única.

A claridade da Lua é para ser apreciada, desfrutada e partilhada nos bons momentos da vida. É o alimento de que as nossas almas carecem e a luz da paixão.

quinta-feira, julho 09, 2009

9 Minutos

Tenho nove minutos para fazer tudo o que me falta. E ainda me falta tudo. Olho para trás e vejo que quase nada fiz. Ou melhor, que tudo o quanto fiz foi tão pouco para o que poderia, e deveria, ter feito, que agora, que restam nove minutos, tentarei redimir-me, um pouquinho, de tudo o que ignorei quando pensava que teria todo o tempo do mundo para, a belo prazer, fazer as coisas que mais gostaria de fazer. Puro egoísmo.

Quero redimir-me. Quero mas não consigo. Quero que as palavras possam correr pelos corações, que possam saciar as sedes dos que precisam de água e que possam alimentar as barrigas esfomeadas que, por este mundo, se escondem ou que aparecem no nítido pedido de ajuda. Que as palavras, tudo o que ainda tenho, possam trazer a paz.

9 Minutos. Que não pararam, que fugiram de mim como na vida tudo fugiu e em que nada mudou. Lamento que as mentes, como a minha, só acordem para a vida quando já é tarde demais, quando já nada podem fazer e depois, em parcos minutos, querem fazer tudo o que, numa vida inteira, ignoraram. Lamento e penitencio-me por ser igual a todos, por olhar para o outro lado, para não sentir a dor dos que sofrem ao meu lado. Lamento profundamente embora de nada adiante. E agora, que os meus minutos findam, espera-me a justiça do caminho que escolhi. E não foi por falta de avisos, de conselhos e de vontades que o escolhi. Foi porque só pensei em mim e no momento que vivia quando escolhi cada passo, quando tomei cada decisão e nada mais.

E nos meus últimos segundos, se escolher pudesse, gostaria de usar as seguintes palavras, sabendo de que, com elas, me afasto:

Perdoem. Amem. Uni-vos. Libertem-se. Olhem em redor.

Esgotou-se-me o tempo e nada fiz.

quarta-feira, julho 08, 2009

Cores

Em segredo pinto as paredes do meu imaginário de cores quentes, construindo, assim, um mundo interior de paz e alegria.
Mesmo que o meu corpo transporte uma imagem desconcertante, será apenas um exterior, adaptado às conjunturas reflectidas, que ocorrem por onde o corpo passeia e, nunca, um estado prostrado ou em mutação da humana condição. Há essa consciencialização.
Há na empatia das cores um jogo de sedução que envolve e acalma.
Nas cores há imagens que emergem e fomentam a meditação. Transportam-nos para esse oculto mistério onde nos sentimos bem.
E, por vezes, basta um sorriso, simples que seja, para nos encaminhar para esse apetecido mundo das cores, onde estaremos envoltos nas mais sumptuosas alegrias.

terça-feira, julho 07, 2009

CR9 ou Cristiano Ronaldo

Ontem Madrid parou. Para ver um menino de rosto brando. Parou Madrid e toda a Espanha. Parou a Europa, com especial incidência em Portugal, mas também o resto do Mundo que esteve atento através das televisões.
O melhor e mais bem pago jogador do Mundo mostrou-se de equipamento branco, com a camisola 9, do Real Madrid. Cumpriu o sonho. Jogar no Real Madrid era o seu objectivo desde pequenino e conseguiu-o. Certamente nunca tinha imaginado que, com ele, estariam mais de 80.000 pessoas, o que é, de facto, um marco histórico no futebol mundial.
Um português, da Madeira, criado em Lisboa e no Sporting Clube de Portugal, continua a fazer o seu caminho de sucessos. Mas, o mais importante, é que Cristiano Ronaldo está feliz. Tão importante como deveria ser esta oportunidade, que é mais uma, de percebermos uma mensagem intrínseca que sobressai deste episódio todo – o sonho – é possível, ou – o trabalho – mais tarde ou mais cedo, dará os seus frutos.
É assim Cristiano Ronaldo. Acredita, luta e nunca desiste até conseguir os seus objectivos. É também português, o que contraria o velho bloqueio de que, o que é nacional não tem valor. Infelizmente, é necessário ir para o estrangeiro para ganhar dinheiro e estatuto social, ou poderia dizer, respeito. Porque não temos essa capacidade de, primeiro, criarmos condições propícias a todos de ganharem dinheiro cá dentro, depois porque, quase como um descrédito ou rivalidade mesquinha, não conseguimos encontrar uma plataforma de consciência que nos dê, a nós, alguma luz e, a quem tem valor, algum prazer de ser reconhecido na sua terra natal.
E há por aí, espalhados pelo mundo, alguns CR9 nas mais diversas áreas profissionais à espera do seu tempo de reconhecimento nacional.
Enquanto isso, vamos perdendo uns e outros, ou porque preferiram ir viver para Lanzarote ou porque optaram pela nacionalidade brasileira e, como se nada fosse, continuamos lerdos, em silêncio e a pensar na crise em que vivemos, sem pensarmos muito nas razões porque tudo aconteceu e, principalmente, na forma de mudar os rumos de tudo o que vai acontecendo e que está, de facto, muito mal.
E como um dia vem depois de outro, esperamos hoje alguma novidade futebolística para o nosso clube, porque, se ontem foi impressionante o que vimos em Madrid, hoje também o vamos querer, para o nosso clube, seja ele qual for. Mas por amor da santa, não nos peçam nada, não nos peçam para fazer alguma coisa porque nós heróis dos pagamentos de impostos e outras aventuras sociais só queremos ver na nossa terrinha as mesma festas que em outros locais acontecem, ainda para mais, com produtos da nossa terra. Vá lá, sejam cordatos e sensíveis, dêem-nos o que queremos e a malta continuará de sorriso aberto a votar em que souber falar melhor e, um dia depois do outro lá iremos trabalhar na esperança de mais uma grande novidade.
Até lá, falaremos do menino que, um dia, disse que iria jogar naquele clube e cumpriu, e como sempre, ignoremos o trabalho que teve e os sacrifícios, para ficarmos retidos no dinheiro que ganha, que bom seria para nós, ou na cor do equipamento que, desta vez, até nem lhe fica tão bem.
Enfim, se alguém o vir, dêem-lhe os parabéns por mim e não sejam egoístas que o miúdo bem merece todo o carinho e reconhecimento que lhe é prestado.
Tenho pensado e agora fica dito.

segunda-feira, julho 06, 2009

Uma brincadeira de caracteres

O meu vizinho lembrou-se de colocar uma folha, nos elevadores do prédio, em jeito de comunicado da Administração, que rezava assim:

Estimados Condóminos,

Temos recebido imensas queixas anónimas por causa dos cagalhões, que, diariamente, aparecem perdidos no chão do hall do prédio e em alguns patamares. Espalhados que ficam, provocam um mal-estar a quem visita o prédio, obrigando os moradores a andarem de olhos pregados ao chão para que não tenham que pisar esses meritórios abjectos naturais.

Há uma particularidade de que ninguém se queixou – o odor – o que significa que essa parte, não sendo visual não merece qualquer referência ou, melhor ainda, é algo em que o hábito se sobrepôs. Seja como for, há uma necessidade premente de convocar uma reunião extraordinária – regida pela boa educação – em que serão expostos os argumentos dos queixosos, já aqui adiantados, bem como estes darão a cara contra os responsáveis. Por sua vez, entre os responsáveis, terá que haver um consenso sobre o/os causador/es desta anomalia e que, em paralelo, devem trazer argumentos para corrigir este problema.

Fica assim a reunião marcada para o próximo sábado pelas 21 horas.

Atentamente,

A Administração

Certo é que, no dia, houve condições para realizar a maior assembleia jamais imaginada, dado que os curiosos eram em maioria. Queiram saber tudo, quem eram os queixosos, os culpados e, provavelmente, as medidas ou represálias a tomar. No entanto a assembleia não se realizou, porque não se sabia quem a tinha colocado aquele papel com caracteres de malandrinho no elevador. Houve apenas uma grande cavaqueira, em que vizinhos que mal se conheciam puderam conversar

Depois os cães deixaram de vir a rua, pelo menos nos horários habituais, porque nunca mais foram avistados animais pelos elevadores ou pelas escadas.

O meu vizinho ainda hoje se ri, quando nos cruzamos e trocamos olhares, certo de que nunca mencionarei o seu nome.

Um dia, quem sabe, se não farei também a minha brincadeira de caracteres.

sábado, julho 04, 2009

Contos de Longa e Semifusa - no Porto



O autor, Mário Correia, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Contos de Longa e Semifusa”, a ter lugar no Museu Soares dos Reis, Porto, no próximo dia 10 de Julho, pelas 18:30.

Obra e autor serão apresentados pelo poeta Ivo Machado e pela Doutora Virgínia Martins Pinheiro.

quinta-feira, julho 02, 2009

Cria – dor

Entre os cinzentos
das esquizofrenias
dos rituais medonhos
da astúcia sociedade
onde passar,
é um mero acontecimento
lavram rasgados oponentes.
Há uma linha ténue
trajada de azulão.

Escapam risos
memórias sustidas
e um olhar melancólico
meio aspergido
curvado ao tempo
assumindo um corpo
perdido pelo chão
dessa tua passada incolor.
Entre cinzas caminharei.

Nas águas da liberdade
beberei as riquezas
profanadas
e no tédio azulão verdade
me deitarei resignado.

quarta-feira, julho 01, 2009

Novidades

Eis que encontro uma palavra ambiciosa e bastante nutritiva. É que adoro, e quem me conhece ou lida comigo diariamente sabe-o bem, dizia eu então, que adoro pronunciar esta palavra porque ela leva-nos, melhor, leva aos mais longínquos cenários.
Vejamos o seguinte: Então e novidades?
Não sabendo, em concreto, o que procuro, o meu interlocutor poderá vaguear (no pensamento, claro!) por estes campos:
Será que ele quis dizer – Inovações? O que demonstra ser um indivíduo atento e em pleno crescimento, consciencializado. Quem procura saber de inovações é certamente alguém interessado em aumentar o seu poder de desenvolvimento.
E se quis dizer – Originalidades? É uma pessoa diferente, provavelmente preocupada com coisas diferentes do comum.
Mas se quis dizer – Notícias: Bem, quer ser actualizado, demonstra interesse por tudo ou pelo Mundo.
E há também – Novas: Busca algo que seja uma lufada de ar fresco na sua vida, por exemplo.
Já em relação – Informações: Aqui entra tudo, sustento a vertente profissional, onde é fundamental que a informação circule e, se não circular, há que a procurar.
Mas ainda há – Bisbilhotices: Lembro-me que pode estar implícito a malandrice ou alguma curiosidade natural e importante para a boa vivência social.
E para terminar – Indiscrições: Que gostava de induzir ao campo mais íntimo da confidencialidade ou quanto muito, ao aspecto táctico de subtracção de informações específicas.
Enfim, há um amontoado plano teórico que poderá sugerir um vasto e diversificado caminho. Claro que, o que penso ao fazer a clássica pergunta – Novidades? Não direi.
Agora, depois desta abordagem, estou certo que, sempre que fizer a minha querida pergunta vou provocar, no mínimo, um espaço aberto na comunicação de poucos segundos…
Que ficará o meu interlocutor a pensar?