Ontem Madrid parou. Para ver um menino de rosto brando. Parou Madrid e toda a Espanha. Parou a Europa, com especial incidência em Portugal, mas também o resto do Mundo que esteve atento através das televisões.
O melhor e mais bem pago jogador do Mundo mostrou-se de equipamento branco, com a camisola 9, do Real Madrid. Cumpriu o sonho. Jogar no Real Madrid era o seu objectivo desde pequenino e conseguiu-o. Certamente nunca tinha imaginado que, com ele, estariam mais de 80.000 pessoas, o que é, de facto, um marco histórico no futebol mundial.
Um português, da Madeira, criado em Lisboa e no Sporting Clube de Portugal, continua a fazer o seu caminho de sucessos. Mas, o mais importante, é que Cristiano Ronaldo está feliz. Tão importante como deveria ser esta oportunidade, que é mais uma, de percebermos uma mensagem intrínseca que sobressai deste episódio todo – o sonho – é possível, ou – o trabalho – mais tarde ou mais cedo, dará os seus frutos.
É assim Cristiano Ronaldo. Acredita, luta e nunca desiste até conseguir os seus objectivos. É também português, o que contraria o velho bloqueio de que, o que é nacional não tem valor. Infelizmente, é necessário ir para o estrangeiro para ganhar dinheiro e estatuto social, ou poderia dizer, respeito. Porque não temos essa capacidade de, primeiro, criarmos condições propícias a todos de ganharem dinheiro cá dentro, depois porque, quase como um descrédito ou rivalidade mesquinha, não conseguimos encontrar uma plataforma de consciência que nos dê, a nós, alguma luz e, a quem tem valor, algum prazer de ser reconhecido na sua terra natal.
E há por aí, espalhados pelo mundo, alguns CR9 nas mais diversas áreas profissionais à espera do seu tempo de reconhecimento nacional.
Enquanto isso, vamos perdendo uns e outros, ou porque preferiram ir viver para Lanzarote ou porque optaram pela nacionalidade brasileira e, como se nada fosse, continuamos lerdos, em silêncio e a pensar na crise em que vivemos, sem pensarmos muito nas razões porque tudo aconteceu e, principalmente, na forma de mudar os rumos de tudo o que vai acontecendo e que está, de facto, muito mal.
E como um dia vem depois de outro, esperamos hoje alguma novidade futebolística para o nosso clube, porque, se ontem foi impressionante o que vimos em Madrid, hoje também o vamos querer, para o nosso clube, seja ele qual for. Mas por amor da santa, não nos peçam nada, não nos peçam para fazer alguma coisa porque nós heróis dos pagamentos de impostos e outras aventuras sociais só queremos ver na nossa terrinha as mesma festas que em outros locais acontecem, ainda para mais, com produtos da nossa terra. Vá lá, sejam cordatos e sensíveis, dêem-nos o que queremos e a malta continuará de sorriso aberto a votar em que souber falar melhor e, um dia depois do outro lá iremos trabalhar na esperança de mais uma grande novidade.
Até lá, falaremos do menino que, um dia, disse que iria jogar naquele clube e cumpriu, e como sempre, ignoremos o trabalho que teve e os sacrifícios, para ficarmos retidos no dinheiro que ganha, que bom seria para nós, ou na cor do equipamento que, desta vez, até nem lhe fica tão bem.
Enfim, se alguém o vir, dêem-lhe os parabéns por mim e não sejam egoístas que o miúdo bem merece todo o carinho e reconhecimento que lhe é prestado.
Tenho pensado e agora fica dito.
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