sábado, abril 28, 2012

Abril em tempo de memória


Não terá sido em vão que a liberdade deste povo ganhou a sua referência em Abril. Decorria o ano de 1974 e foi no preciso dia 25 que se consumou a revolução. Dizem que os amores, quando nascem neste mês, são para sempre. Uma crença que nos chega através da deusa do amor e da paixão: Vénus.
A liberdade deveria ser para sempre, mas, antes de tudo, um manifesto de amor. E de amor porque implica respeitar e cuidar.
Liberdade deveria ser, sempre, o dar de nós aos outros, mas na exata medida e sem exigir o retorno ou qualquer obrigação.
Abril também é uma palavra que surge do latim Aprilis – cujo significado é abrir –, associada à evolução das culturas.
Liberdade e cultura são palavras gémeas. Nos dias que correm, cada vez mais. Isto porque a liberdade intelectual é fundamental para criar e a criação é o auge da cultura. Infelizmente, e invertendo o sentido, há cada vez menos liberdade – mesmo que a falta seja dissimulada –, consciente ou não, e a cultura perde os apoios das entidades da mesmíssima forma.
Mas este mês será sempre único. Vejam que, em todo o ano, só ele não termina da letra “o”. E já agora, porque mencionei o nome etrusco de Vénus que, como sabemos, também é conhecida por Afrodite, nome grego, há quem considere que era oriunda de uma espuma/mar – significado, no grego antigo, de “Abril”.  
E se de nascer se trata, Abril é fértil em acontecimentos, homenagens e comemorações. Da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral em 1500 (22/4) ao dia mundial do livro e dos direitos de autor (23/4) ou do livro infantil (02/4).
E na ligação liberdade e cultura outras referências podem ser encontradas num mês em que o povo sempre diz: “em Abril águas mil”. 
Mas em tudo, seja liberdade ou cultura, há a origem. De uma outra forma poderíamos dizê-lo: nascimento e – justiça seja feita – a Mulher é o âmago de tudo. Para todas as mulheres o meu dia 13 de Abril, isto é, o dia do beijo – o mais lindo de todos – deixo-vos um abraço e um respeito sentido, com a máxima verdade – essa que nos dias que correm escasseia e que também se comemora. Mas só há verdade porque também há a mentira e esta todos sabemos que se comemora no primeiro dia deste mês.
Em tempo de memória não basta recordar ou comemorar, agora é preciso combater!
Abril é um excelente mês para iniciarmos o nosso combate – em especial para os que ainda esperam que alguém resolva alguma coisa por si –, seja contra a crise ou pela manutenção da liberdade, dos direitos e das ambivalências. “Todos diferentes, todos iguais”. Nunca esqueçam que a cultura é a fotografia mais fiel de um povo. Para memória futura!
E isto, digo eu!
Publicado na Edição n.º 8 | Ano I

sexta-feira, abril 06, 2012

TRAÇOS ROSA CHOQUE de Abraão Vicente


[TRAÇOS ROSA CHOQUE - Abraão Vicente - LUA DE MARFIM - Abril 2012 - P.V.P. 10,00 €]

Colecção: LUA CHEIA
Autor: Abraão Vicente


Para se identificar a origem das coisas, muitas vezes nem é preciso ir muito além no tempo. Nem é preciso ler a “História Geral de Cabo Verde”, mergulhar a cabeça nos bons tempos de investigador de Gabriel Fernandes “Em busca da Nação” ou reler de  olhos regalados “Intelectuais, Literatura e Poder em Cabo Verde” de José Carlos Gomes dos Anjos. Para saber a origem do nosso estado civilizacional, para entender o porquê do perfil dos nosso políticos e o avassalador descaramento na apropriação do património do Estado em benefício de alguns, basta pegarmos em duas palavras plenas de conscequência no nosso presente:
memória e esquecimento.
Sendo que a memória não estando dependente da nossa consciência, mas da nossa integridade intelectual como povo, tem vindo a ser deturpada e enviesada pelo exagero uso do esquecimento por parte de todos nós. Lembrando Santo Agostinho: Seremos assim tão pequenos que não temos “espaço” para conter a nossa própria memória?

domingo, abril 01, 2012

Um livro que todos deviam ler...


[Sandra Nóbrega – HISTÓRIAS DIFÍCEIS DE CONTAR – Lua de Marfim, 75 pp, 10 euros]

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No passado sábado, 24 de março, na Galeria Municipal do Montijo foi lançado o segundo livro desta escritora incluído no âmbito das comemorações do Dia da Mulher.
Esta obra, Histórias Difíceis de Contar, é prefaciada pelo Dr. Armando Leandro, presidente da Comissão Nacional de Proteção das Crianças e Jovens em Risco.
Tive o prazer contribuir com uma pequena nota de editor, reforçando a vontade de editar e de escolher as diversas temáticas publicadas.
Defendo, desde sempre, que os editores devem ter consciência da responsabilidade de editar, razão pela qual, desde a primeira hora deste projeto editorial, o faço. É em relação ao critério e em especial ao alcance que a ferramenta livro poderá ajudar e influenciar o mundo. Como há livros técnicos, outros de entretenimento, de ficção ou poesia, também há os que podem ajudar-nos. Quase todos, se forem bons, poderão ajudar-nos, mas uns mais que outros.
Enquanto seres humanos precisamos sempre de aprender mais, de saber das realidades – por mais tétricas que sejam – e de crescer.   
Desafiei a Sandra Nóbrega a escrever as suas inquietudes. Sou um homem de desafios e isso reflecte-se no panorama editorial. Uso, para definir a nossa editora, três palavras de imagem: Qualidade, Mensagem e Diferença – e este livro, tal como a sua autora – conseguem reunir todas.  
Agora, que este livro está finalizado, sinto que o desafio foi ganho. É preciso, no entanto, dizer que houve a coragem de o assumir, em especial por parte da autora, e todas as pessoas envolvidas – a quem agradeço com devoção, orgulho e satisfação – deram o seu melhor com a missão de partilha e dever de cidadão. No silêncio, mas marcado no tempo e nas nossas memórias, ficaram longas horas de muito trabalho e sofrimento.
Espero que este livro ajude a libertar fantasmas, possa dar enquadramentos para que alguém encontre vontade e força para superar situações semelhantes às retratadas ou que alerte a sociedade, por vezes egoísta e adormecida, para outras realidades.
As crianças são o nosso futuro, o nosso amparo e a nossa esperança. O resto dos dias que nos falta viver devem ter um espaço de reflexão e de consideração. Tudo está à distância de um nada. Agora, depois da leitura, a consciência de cada um fermentará a importância deste objeto.
Que chegue a muitas mãos, mais olhos e abra os corações da razão. A felicidade não é uma meta, um oásis ou uma busca intemporal mas sim um direito da condição humana. Todos devemos lutar pela equidade e cada um, em particular, que faça a sua parte – nem que seja ler e divulgar este livro –, pois foi para melhorar a vidas destas e de outras crianças iguais a estas que acreditámos neste projeto literário.

Paulo Afonso Ramos

Publicado no Jornal
(Abril 2012 - Edição n.º 7 | Ano I)