Ainda o XI Concurso do Luso-Poemas “O vinho” (II Luso-Concurso de 2008) após justa homenagem ao poema vencedor da Poetisa Vera Silva, agora e aqui, sou eu que partilho a prosa com a qual concorri, chama-se:
Sou O Vinho
Eu sou o vinho. Foi da terra que pisaste que os meus pais nasceram, videiras em flor, e nessa mesma terra deram os seus intentos, expostos ao sol e as chuvas, germinaram o seu fruto em cachos de alegria e cor, que, despedaçados, jorraram lágrimas de sangue e de uma vida renovada.
Sim! Eu sou o vinho. E como a terra pisada pelos teus semelhantes, o fruto dos meus pais também foram pisados até a exaustão. Acabou assim a terra, as pisadas e o fruto, mas dessa relação intensa nasci eu… o vinho que procuras!
Trago comigo esses momentos que não vivi, mas que fazem parte de mim!
Sou o rio vestido da cor de sangue em homenagem ao sofrimento como um fado.
Sou o pecado vestido de vergonha em que me escondo dessa saudade.
Sou encorpado de carícias e também me visto de esperança para que o meu desejo se cumpra. Quero vingar os meus antepassados e assim deixar o teu físico cambalear e, para isso, basta-me que bebas o meu corpo feito suor e lágrimas. Porque te atraio, deixo-me saborear e assim iludo-te nesse caminho que não dás conta… é o vinho que pedes.
Não sabes o meu caminho porque apenas me queres para degustar… não me importo, e dou-te esse prazer!
Saberei que, em troca, terei o teu reconhecimento, meu alento, esbanjado no paladar de quem tanto me quer…
Ainda que me resistas, por hoje, num amanhã próximo voltarás a beber-me mais, até que, em cadências abstraídas, chegarás ao meu intento, vestido de prazer e de sensações que te levem ao meu mundo… Ouvirás é o vinho, é o vinho, e não te recordarás do nosso percurso, mas saberás que sou eu… o teu vinho!
Mais tarde, consciente, regressarás ao meu caminho, transformado em nosso, e, em liturgias ancestrais, voltaremos a brindar á nossa paixão.
Eu espero-te… para que me tomes! Sou teu… Sou vinho!
4 comentários:
Texto muito bem escrito sobre o tema do vinho.
Parabéns!
Abraço
E eu faço um brinde a este texto.
Rita
Serias um justo vencedor Paulinho :)
A alegria teria sido em dobro se ganhasses.
O texto está divino!
Beijo
Como supervisora do concurso não pode, obviamente votar. E ainda bem. Porque iria ter dificuldade em escolher o primeiro lugar entre o teu e o da Vera!
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