Vi a chuva cair. Senti-a. Era amplamente dispersa e parecia não ter fim. Estranho era o que transmitia, como que uma tristeza subtil embutida no nada espalhado pela imensidão de um céu agreste e desprovido.
Ninguém me viu. Não vi ninguém. Mas ansiei por poderes extraterrestres para poder anunciar o desejo final. Queria que essas lágrimas de ninguém fossem direccionadas aos campos de cultivos e assim ajudassem os que da terra vivem. Todos nós, portanto.
Queria que o Sol aparecesse e trouxesse o seu sorriso inconfundível e assim libertasse uma pequena fragrância de alegria trazendo as pessoas de volta a rua.
O que queria mesmo era dar vida a minha aldeia. E na simplicidade do meu querer criava o espaço adequado para as crianças brincarem nos terrenos baldios e os crescidos labutarem na sua vida diária.
Não sei por quanto tempo permaneci nesta condição, mas sei que acreditei que o meu enorme desejo seria o suficiente para mudar o que quisesse. Acreditei de verdade.
Não sei se foi prece. Não sei se o meu desejo foi sentido pelo além. Nem tão pouco quis imaginar o que o meu pensamento poderia ter criado. Apenas abri os olhos e da minha boca soltou-se uma exclamação…
- Já está!
E estava mesmo, como se nunca tivesse mudado alguma coisa. Sem que tivesse sonhado ou imaginado outro cenário, a realidade era a de sempre. O sol sorria e as crianças brincavam em contraste com os adultos que labutavam arduamente sem reparar em mim ou nas crianças. Vi muita gente. E creio que muita gente me viu também.
A minha aldeia era, de novo, a imagem que sempre tinha imaginado.
E com um sorriso do meu tamanho ainda imaginei que um dia faria a experiência de fechar os olhos e gritar…
- Já está!
Sempre quero saber se as coisas funcionam no sentido inverso…
5 comentários:
já está!+uma prosa de qualidade q nos prende à (tua)leitura.(",)bjs
Seu blog JÁ ESTÁ adicioando nos meus favoritos. Já estou fã!
Beijos de luz!
Já está!!!! já está um texto fabuloso, sobre o que gostavamos que fosse... E que podemos, quase quase, acreditar que é.
Já está!!!! já está um texto fabuloso, sobre o que gostavamos que fosse... E que podemos, quase quase, acreditar que é.
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