Vejo esta folha de papel toda coberta de negro. Pego na caneta de tinta branca e começo uma nova aventura. Sem que nada tenha para escrever, não hesito, e desenho letras na esperança, lenta, de acabar com o negrume que também evade a minha alma. O resto virá por acréscimo. Nascerá uma qualquer história do nada e a vida acontecerá.
Entre mim e esta folha de papel moram uns quantos tesouros e uns quantos espíritos que fazem deste espaço o seu lar. Contam-nos pequenas histórias, em segredo silenciado, e eu trago-as a público como minhas. Mas, nunca poderiam ser minhas se de negro me sinto, se nada tenho para escrever ou se nem sequer consigo imaginar…
Nunca desisto. Quero escrever sempre. Chamo mais letras que, de sorriso aberto, aparecem umas atrás de outras, e sem que eu saiba, são elas que dão vida a folha de papel, quando se organizam na mensagem que os olhos conseguem ler. Brincam entre si e desafiam os leitores a lerem nas entrelinhas, outras mensagens, outras aventuras, num perplexo jogo de silêncios, cores e abstractos gestos acutilantes.
Algumas vezes até penso que tudo se origina em mim. Pura loucura. Mas o mais gracioso, sem que graça tenha, é o facto de que os poucos que me lêem acreditam que sou mesmo eu que escrevo. Pura ilusão. Mítica alusão.
Apenas pego no papel e deixo-me ir, desembrulhando mensagens envolvidas num misterioso contorno que nunca aprendi, e que, por isso, não conseguirei explicar. Também não importa, basta que junte as letras, basta que elas desenhem a frase – não fui eu – basta, para mim, e talvez baste para quem lê. Não importa!
Como uma brincadeira que substitui o tempo da meninice, que muda as diversões de criança, o que escrevo – embora não seja só meu – dá-me um lúcido prazer e ajuda-me a viver. Transporta-me de estados esgotados para estados mais etéreos, transporta-me, na leveza da alma, para o supremo desejado, mesmo que inalcançável, a viagem iniciada e o desejo de conseguir distraem-me e aliviam o meu sofrimento.
Lentamente vou retirando a capa negra do meu corpo inflamado, e num passo dado, cresço dentro de mim, com as palavras que consumo.
Entre mim e esta folha amiga, há uma cumplicidade lúdica, onde fogem os dissabores, mesmo que por escassos momentos, e nascem outros secretos eventos.
Voltamos sempre para conversar, partilhar, confessar ou recriar os sonhos de papel, e os outros imaginários das personagens que não conheço, ainda que habitem em mim, como tesouros ou como desenhos dos espíritos. Este é o nosso lar. A nossa condição. Mesmo que importe a alguém…
Ou não!
O caminho se fará num tempo perdido, mas chegará no seu adequado tempo dos que já não conseguem existir de outra forma…
A mesma tinta branca com que pinto a folha de papel, serve para pintar o meu rosto, até que chegue a alma, até que vire fantasma... se assim tiver que ser…
3 comentários:
Passei por aqui só para te desejar uma semana de grandes realizações.
Está tudo muito lindo aqui
Abraços
É preciso viver o sonho e a certeza de que tudo vai mudar.
É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os desejos não precisam de razão, nem os sentimentos, de motivos.
O importante é viver cada momento e aprender sua duração,
pois a vida está nos olhos de quem sabe ver...
Desejo que no ano que vem, você...
Realize todos os seus sonhos;
Descubra a cada dia coisas novas para realizar esses sonhos...
Não tenha medo de viver o momento em que eles acontecerem;
E, nesses momentos, descubra novos sonhos.
Feliz Ano Novo!
Lindo teu blog... Realmente encantador!!!
Beijos, Feliz 2009!!!
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