Não sei contar as palavras, mas sei que são cento e onze
têm que ser cento e onze, não podem ter outro número
porque são apenas palavras, libertas, perdidas e magoadas
que sofrem de um silêncio transparente que ninguém vê
que ninguém lê, e são sempre palavras, as mesmas palavras
descobertas, fechadas, caídas ou abertas, são sempre as mesmas palavras
feitas do mesmo mistério, do mesmo riso e até da mesma histeria
que brindam cada olhar. Há sempre um novo olhar.
Mas as palavras continuam a ser as mesmas – cento e onze palavras!
Conta comigo as palavras, do princípio até ao fim
conta-as com cuidado, devagarinho, para que não te enganes
e quando as contas, as palavras, sempre as mesmas, estás pertinho de mim
mergulhada na minha secreta essência sem que te apercebas
é que em cada palavra há um bocado de alma e, com calma, talvez a sintas
talvez lhe toques ou oiças o murmúrio do avesso que se esconde assim
tão perto do longe. É que, na verdade, não há longe, mas apenas palavras.
Agarra este papel e guarda-o. Contem a mensagem para mais tarde decifrares
nele, o papel, estão mais que palavras estão os teus caminhos traçados.
Amanhã estarás de novo envolvida nesta mensagem, atordoada, mas não [convencida]
não saberás se contaste cento e onze palavras ou se leste a verdadeira [mensagem]
não te deites por perdida, que ambas encontrarás, nas palavras que têm vida
há muitas que nos enganam, mas só estas cento e onze palavras merecem [homenagem!]
1 comentário:
O Paulo põe, em tudo o que escreve, um "pedacinho" da sua alma... Maravilhoso.
Palavras... Emoções... Silêncio...
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