Ao acordar, das viagens da idealidade, o emudecimento do meu corpo deslocava-se para um refúgio sabido. Quase como num ritual, o episódio repetia-se espontaneamente, nesse espaço, em frente ao espelho, onde a cara assumia paulatinamente uma outra entidade. O nariz cobria-se de vermelho como chamariz de olhares e, em conjunto, os lábios vestiam o esboço de uma qualquer casa de campo onde os dentes brancos em permanente assessoria, faziam de cicerones, convidando os interlocutores a entrar. Esses, interlocutores, criações do meu imaginário, faziam, na totalidade, o que lhes imaginava e, sempre tudo, no mais íntimo cenário e em segredo dos loucos tão normais deste novo mundo. Sem explicações, sem comentários ou sem tentativas imberbes de justificar cada passo dado.
Entre uns e outros momentos, cuja fronteira mais que ténue disfarçava a transposição, existia uma nova sensação da realização de um semi-desejo quase construído em alicerces sentidos e apoiados nas entranhas da imensidão.
José, o piaçá de serviço daquele local, entrava em labor para pôr um fim a cada episódio.
Alto e esguio, mas com mãos de aço, expurgava os últimos resquícios que, incomodamente, deixavam-se ficar para trás. Era preciso deixar aquela sala de eventos lunáticos em perfeitas condições para outras aventuras. Sabíamos que havia sempre uma próxima vez.
Das viagens à minha latrina, construída entre murmúrios e loucas aventuras, sobravam os intensos prazeres que, do mais pretensioso ao mais servil, nenhum ser jamais desprezaria.
Um dia plantarei um rosal para enfeitar os desvios de Neptuno e ambientar o oxigénio ofendido que, em segredo, ainda foge e se aloja em outras latrinas que uns tanto gostam de chamar de cérebro, embora nem os seus proprietários saibam dessas viagens empestadas de súcias desavindas de outras paragens.
Amanhã outra viagem acontecerá na minha latrina.
Sem comentários:
Enviar um comentário