sexta-feira, julho 19, 2013

Boa noite


Hoje não tenho palavras para dar. Tinha tantas palavras e com o vento acabei por fazer um abrigo sem janelas. Hoje não tenho frio. Tenho um abrigo. Hoje tenho as mãos cheias de nada. Nada, para mim, é mais que um mundo da palavra. Nada é um tempo que nunca termina. Nada é sempre o que ofereço em cada noite que aqui adormeço. Por vezes, tenho frio e o vento dança nos olhos da noite, outras vezes, tenho tantas palavras que fogem desse olhar que mora longe.

Hoje não tenho tristeza. A tristeza é uma prisão que castiga as horas. Hoje não tenho tempo para esbanjar castigos. Nem as palavras voam nos ventos da noite se não tiverem asas brancas. Hoje tenho asas brancas e todo o tempo do mundo. Sem a prisão, sem os castigos.

Hoje, em boa verdade, tenho mais que muitas palavras. Tenho um trevo de quatro folhas que olha por mim. Tenho beijos de açúcar e abraços de mel. Tenho luz. Hoje não tenho palavras para dar, mas tenho amor, o amor de querer viver dentro das palavras, sem ventos, sem frio e de mãos cheias de nadas... Hoje não! Não tenho palavras para dar. Perdão! Perdão, deixo cair devagarinho as duas palavras do costume. Apenas duas. Só duas. Hoje não! Não tenho mais, mais que um tímido boa noite.

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