Hoje não tenho
palavras para dar. Tinha tantas palavras e com o vento acabei por fazer um
abrigo sem janelas. Hoje não tenho frio. Tenho um abrigo. Hoje tenho as mãos
cheias de nada. Nada, para mim, é mais que um mundo da palavra. Nada é um tempo
que nunca termina. Nada é sempre o que ofereço em cada noite que aqui adormeço.
Por vezes, tenho frio e o vento dança nos olhos da noite, outras vezes, tenho
tantas palavras que fogem desse olhar que mora longe.
Hoje não tenho
tristeza. A tristeza é uma prisão que castiga as horas. Hoje não tenho tempo
para esbanjar castigos. Nem as palavras voam nos ventos da noite se não tiverem
asas brancas. Hoje tenho asas brancas e todo o tempo do mundo. Sem a prisão,
sem os castigos.
Hoje, em boa
verdade, tenho mais que muitas palavras. Tenho um trevo de quatro folhas que
olha por mim. Tenho beijos de açúcar e abraços de mel. Tenho luz. Hoje não
tenho palavras para dar, mas tenho amor, o amor de querer viver dentro das
palavras, sem ventos, sem frio e de mãos cheias de nadas... Hoje não! Não tenho
palavras para dar. Perdão! Perdão, deixo cair devagarinho as duas palavras do
costume. Apenas duas. Só duas. Hoje não! Não tenho mais, mais que um tímido boa
noite.
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