As
gavetas podem ser de todas as cores. De madeira ou de qualquer outra matéria.
Guardam coisas. Guardam o nosso tempo. A nossa memória. Hoje abri mais uma
gaveta do meu corpo. Tirei os papeis. Espalhei-os pela vida. Li-os. Tinham uma
letra tímida. Umas palavras carentes. Umas frases de desejo e esperança.
Descobri que era uma gaveta da minha adolescência, do tempo dos sonhos de vida,
dos ideais, do acreditar. Há gavetas no nosso corpo que têm a capacidade de
surpreender-nos, de mostrar o que já todos fomos: pequeninos.
Esta
gaveta mostrou-me mais, muito mais. Mostrou o que cresci dentro de mim.
Mostrou-me o caminho honrado que já percorri. A força de erguer o sonho. A
consciência de existir com dignidade. Há gavetas em nós que são molas
impulsionadoras. Há gavetas de todas as cores. De todos os tempos. De todas as vivências.
Hoje, com este maravilhoso sol, vou sorrir para a vida e guardar esse momento
numa outra gaveta. Vou, depois, fechá-la. Um dia voltarei, por alguma razão, a
abri-la e a sentir este perfume da vida, este sorriso abraçado ao sol e a
consciência tranquila e feliz. Há gavetas que precisam de ser fechadas. Amanhã
ou depois, voltaremos a elas. Hoje abri mais uma gaveta e sorri. Há sorrisos
feitos gavetas e gavetas feitas corpo. Todos temos um corpo cheio de gavetas.
Bem guardadas por cada momento que está por acontecer. Hoje, de qualquer cor ou
matéria, abri a gaveta que precisava e gostei do que vi. Tenho nas mãos tantas
gavetas por abrir. Tenho no corpo tantas gavetas por viver. Sou todas as cores,
todas as memórias e o caminho feliz por percorrer.
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