sábado, dezembro 20, 2008

Palavras In (Contidas)

Conheço as palavras desde o tempo de meninice. Brinquei com elas sem a consciência do seu poder, joguei-as ao vento como um jogo qualquer e soube viver feliz dentro delas. Cheguei a pensar que seria uma mera palavra, talvez até uma frase indefinida ou que uma simples letra definiria a minha presença. O meu nome, enfim, o meu ser…
Corri atrás das ideias que as palavras contêm e pacientemente esperei noites a fio para descobrir e entender os sentimentos que albergam. Fiz de tudo com as palavras. Amei numa frase sentida, perdi-me, matei amizades e nunca percebi que o meu verdadeiro amor era a própria palavra…
Feri tantas palavras pelo tempo e elas nunca deram um grito ou um gemido. Fiz da palavra o meu escudo e também a minha lança nas batalhas literárias. Vesti-as de raiva ou de sofrimento num qualquer texto que quis escrever, sem nunca pensar que as palavras, contidas, pudessem ter uma vida maior do que aquela que lhes queria dar. Cresceram em mim, palavras incontidas, que ganharam forma e se fizeram a vida. Vi-as partir. Vi o seu rasto e as manchas de sangue que provocaram nos distúrbios que fizeram por onde passaram, senti as lágrimas da despedida, como quem parte para sempre e ainda assim, por amor, perdoei e compreendi o seu longo curso, aceitei a sua independência e deixei-as serem elas próprias… Amar é mesmo assim, é dar liberdade, é deixar que o destino faça a sua parte, é sofrer em silêncio e resistir. Resistir a tudo!
Conheço as palavras, mas não todas, porque são uma numerosa família com parentes mais afastados e com as quais nunca tive qualquer relação. E dessas que, por vezes, poucas vezes, nos visitam, deixam-nos uma marca forte na vida, primeiro de surpresa (quanto mais não seja pela visita) e depois pelo efeito que nos provocam, que também provocam aos que as lêem ou aqueles a quem, carinhosamente, as oferecemos.
Assim é a vida. Perdi a meninice, e ainda brinco com as palavras, perdi amizades e não me desfiz da palavra e até perdi amores que nas próprias palavras se diluíram. Ainda só não perdi o amor a palavra, que, estoicamente, permanece, mesmo com a verdadeira noção de que um dia morrerei numa palavra qualquer, ou mesmo que possa ser a própria palavra a matar-me, vou continuar a amá-las sem que precise de encontrar razões ou tão-pouco precise de explicar coisa alguma. Basta-me saber conhecer o amor e identifica-lo na mais humilde palavra, contida ou incontida, mas sempre na palavra. E basta-me entender o amor, entender sempre essa união entre a palavra e o amor!
Por ora, permaneço entre um silêncio mítico e a palavra sábia, num gesto natural de quem quer aprender, aprender a conhecer a natureza humana que existe e se mistura com as palavras, sejam contidas ou incontidas, num perplexo consentimento eternamente paciente. Fecho-me na palavra até querer, até que o amor reapareça…
E numa despedia, solta-se o gemido, dando voz à saudade.
Saudade – é a já palavra que cobre o meu corpo e com que me deito, na esperança que me leve aos sonhos, substituindo uma realidade pobre, e que assim me prenda, que me preencha os espaços dos meus desejos por cumprir.

4 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido Paulo, belíssimo texto ... SUBLIME... Beijinhos de carinho,
Fernandinha

Anónimo disse...

Este texto está espectacular...adorei! Sabes dizer sp as palavras certas no momento certo...um bj enorme pra ti paulo. Adoro-te!

Anónimo disse...

Paulo adorei este texto. eskeci-me de deixar o meu nome no comentário que fiz. Teresa Crespo

Gasolina disse...

Sem qualquer contenção salto ao teu pescoço e abraço-te.

Feliz Natal!

Um beijo para ti.