Continuo
a pensar que tenho idade de brincar. Sinto-me, mais que nunca, com esse
direito.
Apetece-me
ser sexagenário e criança. Olhando tudo com a candura da primeira vez, e o
veneno da última.
Por
isso, aqui vos trago, entre várias loucuras de cariz pessoal e intransmissível,
contos alegóricos de humor e fantasia, ao mesmo tempo que relembro, de mim,
passados heróicos e semi-conseguidos.
Tudo
misturado, como gritos avulsos e diferentes que lançasse na paisagem. Momentos
de gozo e susto, já agora. Surpresa permanente. Porque tanto me apetece
escrever sobre a crise de escoamento dos nabos em minderico, como dissertar
sobre as ácidas manobras da banca mundial; as mais delirantes vindicações
erótico-sanitárias; os justos direitos do mexilhão de rio; as prodigiosas
parábolas evangelizadoras; ou fazer biografia, essa memória quase inútil de
mim, e lembrar o problemático facto de ser gordo entre outras rotundas
perplexidades deste nosso cinzentíssimo viver.
Mas
há um propósito, um eixo comum, uma intenção.
Tenho
por lema que o meu leitor - a existir
semelhante criatura - tenha tanto gozo na leitura do que escrevi, quanto eu
tive em escrever. E se ria e chore perdidamente comigo.
Porque
a partir de agora, ao que parece, já vale tudo.
Porque
já tudo deixou de valer o que parece.
Prometo
emendar-me um dia destes. Até lá - mesmo sem jeito algum para guru do
conhecimento - continuarei soprando a loucura crítica possível. O grito de
dignidade. Mas também o sonho, a fantasia, sem os quais a dura verdade se torna
intragável. Enfim, a tal quase intransitável ruela da Memória, da Ironia e do
Futuro.
Pedro Barroso
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