O desemprego já é mais que uma gigantesca realidade social,
é exactamente uma praga social!
E esta calamidade acerta em cheio nas famílias dos cidadãos
que sempre trabalharam e que agora conhecem um novo modo de vida desocupado e
escasso em ganhos com uma componente até então desconhecida: o terror da
incerteza do amanhã.
O Eestado, mesmo que feche os olhos para não perceber a
verdadeira dimensão deste flagelo, é também um sofredor directo. No aspecto
financeiro, primeiro, porque tem que atribuir mais subsídios de desemprego,
depois porque recebe menos cada vez
menos trabalhadores e, por último, porque se o povo não tem capacidade de
compra os impostos entram menos nos cofres do Estado e com a não existência de
rotação de produtos as empresas acabam por fechar porque deixam de produzir. E
já agora, trabalhadores ainda no activo, façam um intervalo nas greves, que nos
tempos que correm é o maior tiro no pé que um trabalhador dá. Haja consciência
social!
Mas também há quem sinta o reflexo desta calamidade de forma
menos directa: os que compõem o aparelho do Estado. Refiro-me aos que trabalham
nos centros de emprego ou na segurança social. Mas quem quer criticar deve
apresentar soluções ou alternativas.
Para minorar a questão, defendo, já que se gasta tanto
dinheiro mal gasto e de todos nós, que deveriam ser criados dois tipos de
formação para esta nova verdade dos nossos dias: Um curso para os novos
desempregados com as disciplinas psicologia/sociologia/gestão e marketing – assim
estariam ocupados nos primeiros tempos de desemprego e ficariam melhor
preparados para um primeiro embate desta mudança que as suas vidas acabaram de
receber, compreenderiam melhor a máquina que é a sociedade e conseguiriam
imprimir um projecto de mudança ou de criação do seu próprio emprego
ajudando-se e contribuindo de forma directa para o país sair da crise.
O outro curso seria para funcionários públicos que lidam com
as pessoas com este problema. Assim percebiam que os outros (desempregados) têm
dificuldades sérias de subsistência/sobrevivência e teriam abertura para mudar
algumas atitudes e outras quantas regras que actualmente são impostas, como por
exemplo: não darem informações telefónicas dos cursos nos centros de empregos
ao dispor para os desempregados – “Deve dirigir-se ao centro de emprego e tirar
a senha branca” – a frase repetida até a exaustão. Há pessoas que já não têm
dinheiro para passear em vão e podem resolver alguns assuntos por telefone ou
via internet, deixando de contar para a estatística do movimento que ali ocorre
e que podia e devia ser melhorado. E alerta seja dado, se está desempregado e é
chamado ao centro de emprego apresente os bilhetes de transporte e peça o seu
reembolso. É um direito que nunca é divulgado.
Enquanto todos não percebermos que um país em crise e pleno
de desemprego é um problema real de cada um de nós, que o tempo do dinheiro
fácil e em excesso vindo da Europa já acabou, que os políticos devem dar os
bons exemplos em primeiro lugar e, ainda, que o futebol é um mundo paralelo de
sonhos perdidos, estaremos todos socialmente condenados.
Mas ainda há um pormenor que urge mudar: não pensarmos que
os azares só acontecem aos outros porque, de um dia para o outro, pode também
acontecer-nos...
Se pudermos fazer alguma coisa pelo vizinho, pelo
estabelecimento comercial do nosso bairro ou pelo bom produto português
declinando o que vem de fora, porque temos qualidade cá dentro, é agora que
devemos actuar. Agora é preciso dar as mãos e termos bem definido o que
queremos para nós e para os nossos. Votar já não chega! Não votar é quase nada
e nós, povo português, somos tão bons que certamente teremos a ousadia de
afastar este tormento que se veste de desemprego e é filho bastardo da
crise.
Publicado no Jornal
(Julho 2012 - Edição n.º 10 | Ano I)
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