O fogo domina! Apesar de
nesta época ser decretado pela ANPC – Autoridade Nacional de Protecção Civil a
“Fase Charlie – Dispositivo Especial de Combate a Incêndios
Florestais – 1 de JUL a 30 SET – Alerta Azul”, temos algumas localidades em
Alerta Laranja (os alertas são quatro: Alerta Vermelho, Laranja, Amarelo e Azul
por ordem de prioridades e gravidade da situação). Todos anos o cenário louco e
assustador, repete-se, e nunca há meios, homens ou prevenções suficientes para
que se evite ou minore este flagelo de verão. Floresta destruída abraçada à
fauna morrem aos olhos do homem, casas perdidas engolidas pelo fogo, muitas lágrimas e pedidos de ajuda fazem
manchetes dos jornais e abertura de noticiários das televisões portuguesas. Há
reportagens por toda a parte e o desespero das famílias entra pela nossa casa
ao jantar.
É este o país que guarda
os dias ora ao som das mais diversas músicas ora ao outro som do crepitar da
madeira incendiada.
Mas há um passado que
ainda vai sendo o presente, ou um presente envenenado, de um país que não se
veste só destas aventuras. Há outras, sempre outras, que se misturam amiúde com
o quotidiano dos portugueses. O fecho! Fecham-se hospitais/urgências até porque
numa altura de turismo (o melhor de Portugal) ou de incêndios é preciso cortar
nestes custos de saúde, como se sabe por um documento
que a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) disponibilizou, o Estudo para a Carta Hospitalar, onde até se promove o encerramento da
Maternidade Alfredo da Costa, um local de referência de muitos portugueses que
ali nasceram.
Fecham-se escolas, em
Agosto de 2011 foi anunciado pelo Ministério
da Educação e Ciência (MEC)
o fecho de 297 escolas de ensino básico. Atinge-se, assim, sem apelo nem agravo,
a nobre classe dos professores. Reduzem horários, retiram ou substituem os
professores de carreira e ignoram-se consequências futuras em prol de uma
estratégia de anti-crise e pós-trokiana.
Afinal, falamos de
passados ou presentes e as escolas preparam o futuro, pura ironia, e assim,
também se cortam ou fecham oportunidades aos professores.
Quando se abala duas
áreas, saúde e ensino, tidas como bases de uma estrutura elementar para a
sobrevivência de uma cultura e identidade própria de um país, que mais se pode
esperar? Que esperança se pode ter no amanhã?
Estaremos a fechar
Portugal? Estaremos a destruir uma história milenar de sucesso, de exemplo e
até de gáudio?
Talvez se atravesse um
deserto enigmático e a loucura dos
fogos, do desemprego e das constantes adversidades que vamos encontrando pelo
caminho não seja mais que uma miragem adornada pela música de fundo que nos
leva, devagar, ao acordar de mais um sonho ou pesadelo. Talvez...
Publicado na edição n.º 11 | Ano I
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