Não querer fazer
de estádio, morgue...
‘Futuro Risonho’, romance policial de Mário Nóbrega
onde há mistério no querer saber-se _de que clube se é ou no ver o Benfica-FC
Porto na TV de Mário Zambujal achou-o
«excelente»
Na apresentação que
lhe coube, Mário Zambujal revelou: «Estamos em presença de um excelente livro.
Muito bem estruturado, as suas personagens estão bem caracterizadas e a sua
trama sustentada de uma maneira que prende o leitor da primeira à última
página. Por conseguinte, um livro a não perder, ainda mais porque, com
determinação e coragem, o autor escreve uma história ficcionada que se enquadra
na história atual».
É mesmo isso (aliás, é mais, verá...) este Futuro
Risonho, de Mário Nóbrega. Quem lhe leu o anterior Um Mês, thriller
forte e polémico que brevemente poderá passar a cinema através da arte de um
realizador premiado em Cannes – verá que há várias pontes a ligá-los.
Mistério no Benfica-FC Porto
Para além de paixão e morte, frenesins e
sensualidades, flirts e traições, devaneios e noites quentes, por ele o
passa futebol (como se não imaginaria), no diálogo entre um capitão da GNR e um
inspetor da Polícia Judiciária:
- Qual é o seu clube?
Alfredo Medeiros estaria à espera de ouvir tudo e
mais alguma coisa, mesmo que tal pudesse significar mais problemas para a
investigação que já o perturbava demasiado, mas aquela pergunta... Não, não era
possível. E apenas conseguiu, na circunstância, responder com outra pergunta.
- O quê?!
- Qual é o seu clube? Não me vai
dizer que não tem um...
- Tenho, claro. Quem não tem um
clube?
- Então, diga-me lá qual é o seu?
- Desportivo de Chaves.
- Só pode estar a brincar comigo.
Percebe-se que não, não é brincadeira nenhuma,
fala-se de Raúl Águas a atirar o Chaves para a Taça UEFA – e salta, subtil, a
revelação sobre o também torcer por outro grande e o não largar o sofá:
- Não admito que quem vá a um
estádio possa estar sujeito a ter a sua vida em perigo. Até parece que as
pessoas vão para um campo minado...
- Lá isso é verdade.
- O capitão reparou que toda a
gente é revistada nas entradas dos estádios e, depois, durante um jogo, são
lançados petardos e toda a espécie de objetos para o relvado? Os estádios,
capitão, estão transformados em arenas, como no tempo dos romanos. O futebol
devia funcionar como mola impulsionadora de convívio, apesar do desejo legítimo
de se querer ganhar, e não como um passaporte para o hospital ou para a morgue.
Não, capitão, morte já eu tenho de sobra na minha profissão.
O capitão admite que gostava do Campomaiorense e
do... FC Porto – e desafia o inspetor para irem, ambos, ver na televisão o
Benfica-FC Porto. (E ler o livro é descobrir que a ideia, afinal, não era
apenas olhar para o jogo...)
tiros na fábrica de rolhas
OK, mas de que trata, então, este Futuro Risonho?
Se de um ajuste de contas, se de um crime passional se apurará, após o
proprietário de uma fábrica de rolhas de cortiça aparecer assassinado com três
tiros à porta da empresa, numa noite de janeiro...
entre morte e contrabando
«Numa escrita de estilo cinematográfico, o leitor é
convidado a acompanhar as investigações comandadas pelo inspetor Alfredo
Medeiros, da Polícia Judiciária, e pelo capitão Acácio Freitas, da GNR, e num
fôlego chega ao fim do enredo deste romance policial no qual abunda gente
considerada suspeita de ter cometido o crime que para sempre mudou a vivência
de Aldeia do Monte, no Alentejo. Curiosamente, enquanto decorre a investigação
ao assassínio de Geraldo Santos Ferro, uma outra, visando o desmantelamento de
uma rede de contrabando de tabaco, com quartel-general em Espanha e rota
pelas imediações de Aldeia do Monte, é coroada de êxito devido a um...
esquecimento».
É assim que, na contracapa, se levanta o véu à obra.
E sim: ler este Futuro Risonho é mesmo saltitar de suspense em suspense
até se chegar à frase, esfíngica ou não, que o matador larga ao ser apanhado:
«Fiz
aquilo que tinha de ser feito». (E ao chegar
aí, quem lá chegou, percebeu que, afinal, talvez não tenha sido por acaso ou
circunstância, que Mário Nóbrega, enquanto foi escrevendo o seu Futuro
Risonho não deixou, nunca, de ter presente uma ideia a povoar-lhe o
pensamento: a de a ficção ser filha da realidade.)
Na foto: Mário Zambujal, Mário Nóbrega e Paulo Afonso Ramos
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