Não vou escrever as palavras doces
que os teus olhos pedem
não vou… aos lugares
que os teus sentidos almejam…
Não vou resistir
aos poderes dos sorumbáticos
que anseiam desgraças para que possam crescer…
Respondo-te asa branca
deste meu destino oscilante
- vou entregar-me desfalecido
de tanto lutar tão esquecido…
Rege-me um dilúvio
de nadas dispersos
e eu, triste, coberto de choros
encolho o meu corpo
e aceito o momento fingido…
Não! Não vou escrever as palavras
que norteiam a tua ausência
onde prolifera uma demência inóspita…
Não! Não vou resistir
ao nosso destino final…
Perdoa-me porque parti
perdoa-me porque fugi
não encontrei as palavras
antigamente doces
que os teus lábios cobriam
transbordando emoções
quando ao piano tocava para ti
a música do principesco bailado
e na tua silhueta
voava aos píncaros
dos magistrais encantos
puxando-te para um sonho
que ambos inventávamos…
Perdoa-me se te menti
se escondi a minha morte
se no acaso sorri…
quando sofrias.
Já nada me faz sentido
neste meu rosto ferido
enfeitado de sangue transbordado
diluído nas lágrimas
que acariciam este olhar… perdido.
Desfaço-me dos dias enganosos
das noites frias
e das clemências impostas
desfaço-me… tão-só
na brandura da minha dor.
Perdoa-me!
Perdoem-me…
Não resisti,
e alucinei-me com as palavras
nesta loucura das tentativas defraudadas
não resisti,
e degolei o poema
num gesto destemido
insano e sórdido
no silêncio da fraqueza
e na sombra da vergonha…
Escondi-me entre as letras
num refúgio desprendido
para assim poder ser
tão louco como as palavras…
Agora ninguém me vê
ninguém me sente
mas eu ando por aí…
(guardado em segredo…)
1 comentário:
Nos teus poemas encontramos sempre versos que tocam, porque se aplicam em quem lê. Talvez seja esse o segredo da tua escrita maravilhosa, esse poder que tens de nos entrar no coração e na alma.
O poema está muito bem escrito, com versos simples, e apesar de uma certa nortalgia, tem aquele teu traço de extrema candura e bondade.
Mil beijos
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