sexta-feira, junho 29, 2012

"Bipolaridades" de Vera Sousa Silva


(Clique neste link para ouvir a poesia de Vera Sousa Silva na voz de Luís Gaspar)

É já amanhã 30/Junho/2012 que é o lançamento deste fantástico livro de poesia.


A editora Lua de Marfim e a poetisa Vera Sousa Silva têm o grato prazer de convidar V. Ex.ª a estar presente no lançamento da obra, “Bipolaridades”, que acontecerá no dia 30 de junho de 2012, pelas 16h, no Hotel Real Palácio, Rua Tomás Ribeiro - 115 em Lisboa.

Obra e autora serão apresentadas pelo poeta Emanuel Lomelino.

Contamos com a sua presença.


(...) não ficar suspenso na amplitude e nas abordagens dando-nos um vasto cenário demonstrando que a poetisa é bipolar. Angústia/exaltação, dor/prazer, anseios/desprezos, são alguns registos dos poemas de dupla expressão(...).


(...) um tom quase orgástico, seguramente erótico de muita da poesia. Aqui, também poderíamos, balançar na bipolaridade quando, através de poemas intensos trata a dor e a saudade quase de uma forma metafísica (...). – estes são apenas alguns registos que escrevi no prefácio de um dos seus livros de poesia, mas, nesta obra, há uma estrutura fundamentada que, com a ajuda de uma poesia de grande qualidade e polivalente da poeta Vera Sousa Silva justifica o título de Bipolaridades!

                                                                                                          Paulo Afonso Ramos

sexta-feira, junho 01, 2012

O Meu Bairro

O meu bairro
Hei-de amar o meu bairro com todo o meu silêncio! Mas se, um dia, falar deste meu bairro, que amarrou os dias da minha vida, direi as mais loucas palavras que inventarei para o efeito. O meu bairro merece que crie palavras recheadas de emoção, de sedução e de saudade. Crescemos juntos! Fomos amigos, mesmo em silêncio.
Mais que as casas, edifícios corpulentos ou prédios a aprender a crescer, há pessoas, ruas e espaços de referência. Há um Ritual que marca a diferença! E, ao fim de tarde, entre as cervejas que afagam a dor de existir, as conversas trazem ideias e vontades de mudar o futuro de um país. O meu bairro podia ser um estado novo e ter um presidente. Eu saberia muito bem quem eleger! Mas, como Comunidade, já é um grande bairro porque nele vivem pessoas humildes e trabalhadoras, porque existem escolas e campos de futebol, uma grandiosa biblioteca, entre creches e outras coisas que uma grande Comunidade deve ter. Também existe tanto que os moradores nunca ousaram descobrir, para desfrutar ou para mostrar aos que nos visitam…

E a minha rua, perdoem-me as outras ruas vizinhas, é a que melhor paisagem oferece.

Nela montaria uma esplanada maior do que as que já existem, mas no meio da estrada, para contemplar o Tejo e a ponte Vasco da Gama, e no fim da estrada, junto ao estacionamento, mandaria construir um palco versão arena da Grécia antiga para que o teatro tivesse um espaço próprio com obrigação de assistência, ao final da tarde e pela noite dentro, maior que outro qualquer evento já realizado por estas bandas. Ali desfilavam, à vez, os personagens míticos do bairro, desde dos Smurfs aos Vikings sem esquecer os oradores vestidos a rigor que a política impõe. Talvez seis dias por semana, no máximo, falaríamos do amor pelo nosso clube e depois, se tempo sobrasse, pelo amor ao desporto-rei que é quem domina as conversas da minha rua. Mas falaríamos também de política, das artes e da crise. No meu bairro a crise nunca entrou pois nele não há extravagâncias nem grandes espaços comerciais. Nem promoções de loucos apaixonados pelo sindroma do amanhã. Aqui tudo é sereno como as horas que morrem devagar. Hei-de amar as noites e os dias que mergulhar nesta vida sem igual e que se vão perdendo nos tempos modernos. Hei-de amar os silêncios interrompidos pelos pássaros e os gritos que chamam algumas alcunhas agasalhadas pela solidariedade.

Mas o meu bairro é muito mais para além dos meus olhos, do meu silêncio ou do meu incondicional amor. Nele habitam gerações de linhagens díspares, problemas sociais e vizinhos que não se falam ou hábitos de solidão. O desemprego é o nosso mais recente vizinho! No meu bairro o amanhecer é sempre de esperança e apesar de todas as coisas menos boas é o local perfeito para existir, para conviver com os amigos e desfrutar as emoções da vida. Eu gosto que gostem do meu bairro!    

Publicado na edição n.º 9 | I Ano