domingo, novembro 30, 2008

"Um momento especial"

A noite está fria. É essa a minha companhia, a escuridão da noite e o frio que a acompanha. E não estou só, porque tenho a minha alma que cuida de mim e aquece o meu sentir. Penso no caminho que tenho feito e no que tem acontecido. Das barreiras que me surpreenderam tiro as ilações que julgo correctas. Há caminhos percorridos que apareceram para reconhecer os verdadeiros amigos… Há amores escondidos á espera de serem encontrados… Há dificuldades que acontecem para nos testar ou porque precisamos de dar mais valor às nossas coisas, ou às que nos rodeiam. Não acontecem por acaso. Tudo é o que precisamos…
E a noite, que de fria tem o dote de não ser triste, é a minha amiga e conselheira. Aproxima-se do meu olhar e, baixinho, diz-me:
- Trago-te um momento especial, bem guardado, à espera que possas recebe-lo…
E eu, curioso, fico todo o tempo a pensar no que será essa surpresa. Perco-me no tempo a construir os mais diversos cenários, a desejar, e a noite foge-me do olhar mais uma vez.
São várias as noites que vejo partir assim…
Nunca me preparo para usufruir desse único momento especial e assim espanto as oportunidades que a noite tenta dar-me. Recusando-os.
Não porque não os mereça. Mas merecer não basta, é preciso abrir a porta da alma, o coração e a mente para que aconteçam.
Chego a pensar que talvez ainda não seja o tempo de os ter, e vejo assim esse mesmo tempo diluir-se na minha vida. Uma vida feita de tantos contratempos que passa por mim sem sequer perceber que, um dia, vai acabar e que, então, não haverá tempo ou oportunidades para usufruir de algo especial.
Fica-me o alerta, um momento especial, por acontecer!
Talvez na próxima noite, mesmo que fria seja, mesmo que esteja escura como a tristeza mais profunda, o meu corpo sinta o momento por acontecer e se prepare para o receber, então, só chorarei o tempo que deixei para trás sem o saber aproveitar, sem cada momento vivido, e, em especial, os que releguei como sendo sem utilidade…
E que, nessa noite, talvez a próxima, a luz da lua ilumine a minha vida e todas as noites que acontecerem, como que cada momento seja especial…
Toda a minha vida, a partir desse momento especial, terá outro sentido!

sexta-feira, novembro 28, 2008

XIII concurso de poesia da APPACDM de Setúbal


Exmos Senhores

A APPACDM de Setúbal, com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, promove, no próximo dia 29 de Novembro (Sábado), no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, a entrega dos prémios da 13ª edição do concurso de Poesia, este ano subordinado ao tema "Aprender Contigo".

Esta Cerimónia integrará, para além da divulgação dos poemas premiados, uma homenagem ao poeta setubalense, José Alberto Carmo Raposo, cuja vida e obra será objecto de uma palestra proferida pela poetisa, Alexandrina Pereira, e, alguns dos seus poemas declamados pelo actor, Fernando Guerreiro.

Também o Conservatório Regional de Setúbal e o TAS - Teatro de Animação de Setúbal darão contributos importantes para a valorização desta assinalável e já consolidada iniciativa cultural.

Convidamos V.Exa a participar neste encontro, valorizando-o, igualmente, com a sua importante presença.

Com os melhores cumprimentos,

O Presidente da Direcção
Prof. José Maria da Silva Salazar

quinta-feira, novembro 27, 2008

Pedras Soltas



Será apresentado no próximo dia 29 de Novembro, pelas 18.00 horas, a obra poética de Fernando Saiote intitulada “Pedras Soltas”. O evento decorrerá no auditória da Junta de freguesia de Nossa Senhora da Vila, Montemor-o-Novo. Obra e autor serão apresentados pelos Prof. João Luís Nabo e Prof. Vítor Guita.

Se puder, não falte

quarta-feira, novembro 26, 2008

26-Novembro-2008

Hoje apetece-me brindar ao tempo. Evoco o dia para que dele retire as coisas boas que, ao longo dos tempos, aconteceram. Entre todas, e são muitas, elejo uma a que quero dar um destaque merecido. Recuo ao século XX e nele escolho o ano de 1969. Nesta data e no Barreiro nasceu uma jovem, hoje robusta e afável, com o nome de guerra (uma guerra metafórica), Pedra Filosofal, que, para os amigos, lugar onde gosto de estar, é generosamente conhecida por Magda.
É sobre ela que escrevo para que as palavras a brindem. Todas as palavras, nesta ocasião, são curtas, insuficientes e não conseguem transmitir o verdadeiro sentido que lhes quero dar. Não. Não pensem que a culpa é minha por não conseguir encontrar as palavras adequadas, se a culpa for minha (e não relego essa condição) é por o meu sentir ser tão grande por esta pessoa, tão grande no tamanho e na grandeza do Ser, que nem mesmo as palavras, as minhas ou as de ninguém, conseguem transmitir tudo o que gostaria de transmitir. Porque vos escrevo sobre um Ser especial, de uma entrega constante e de alguém a quem não se pode reconhecer inimigos. Só os mal-entendidos podem encontrar aqui alguma alternativa, que, francamente, não considero. Sobre isto, e se houver algum caso, só o tempo dirá se a razão ficará, ou não, do meu lado… Creio que não terei dúvidas!
Hoje nada mais importa a não ser brindar a pessoa. O corpo que transporta aquela alma tão presente, e que sofre pelos que sofrem e que ri com os que riem, assim, de uma maneira tão simples, que, por vezes, as pessoas não estão habituadas, estranham ou desconfiam.
Hoje é o seu dia. Dia do seu aniversário e que quero presentear com o meu mais sincero desejo de uma amizade perpétua, cheia de saúde e rodeada de todas as pessoas que ama.
Porque a vida é mesmo isto, dar e receber, estar com quem se gosta. Desejo que os dias que se seguem até ao fim da sua linha sejam preenchidos e cheios de alegrias.
Por ora, fico-me por aqui, para dizer o que uma só palavra poderia ter dito, porque o resto consigo transmitir diariamente… Assim, poderia muito bem ficado por um simples PARABÉNS!


terça-feira, novembro 25, 2008

Coração de Cristal



No próximo dia 29 de Novembro, sábado, pelas 16.00 horas, decorrerá a sessão de apresentação do livro “Coração de Cristal” da autoria de Pedro Nobre. O evento decorrerá no auditório do Diário do Sul / Rádio Telefonia do Alentejo na cidade de Évora.

Se puder, não falte.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Folha de Papel


É em ti que me deito
e descarrego as minhas emoções
guardadas num peito
repleto de desejos, sonhos e imaginações.
Depois leio-te
e rasgo-te
com uma raiva de angústia
deitando-te fora,
a ti folha de papel
e ao que resta de mim
num acto sem verdade.
Ainda assim, mais tarde
ludibriado pelas vicissitudes da vida
volto a reconhecer o gesto
o sentimento
e o amanhecer…
A vida acontece repetidas vezes
sem que o queira
nesta ausência de brilho
que só o Sol consegue colmatar.
Um dia folha de papel
vou abrir a minha alma para ti
e desse gesto, nascerá, o meu poema
favorito. E o branco
onde as palavras serão embrulhadas
terá as cores do arco-íris
e em cada cor crescerá
um sorriso
que enfeitará os dias
uma mão
que segurará a vida
um abraço
que abraçará
o mundo…
Um dia a minha alma
será a alegria
de uma folha cheia
de palavras
lidas
relidas
pelo encantador olhar
desse teu amor
e o poema
já não será meu
já não será o favorito
porque será a nossa vida
nobre, e, verdadeiramente vivida…

domingo, novembro 23, 2008

Hospício das Palavras

Não vou escrever as palavras doces
que os teus olhos pedem
não vou… aos lugares
que os teus sentidos almejam…

Não vou resistir
aos poderes dos sorumbáticos
que anseiam desgraças para que possam crescer…

Respondo-te asa branca
deste meu destino oscilante
- vou entregar-me desfalecido
de tanto lutar tão esquecido…

Rege-me um dilúvio
de nadas dispersos
e eu, triste, coberto de choros
encolho o meu corpo
e aceito o momento fingido…

Não! Não vou escrever as palavras
que norteiam a tua ausência
onde prolifera uma demência inóspita…

Não! Não vou resistir
ao nosso destino final…

Perdoa-me porque parti
perdoa-me porque fugi
não encontrei as palavras
antigamente doces
que os teus lábios cobriam
transbordando emoções
quando ao piano tocava para ti
a música do principesco bailado
e na tua silhueta
voava aos píncaros
dos magistrais encantos
puxando-te para um sonho
que ambos inventávamos…

Perdoa-me se te menti
se escondi a minha morte
se no acaso sorri…
quando sofrias.

Já nada me faz sentido
neste meu rosto ferido
enfeitado de sangue transbordado
diluído nas lágrimas
que acariciam este olhar… perdido.

Desfaço-me dos dias enganosos
das noites frias
e das clemências impostas
desfaço-me… tão-só
na brandura da minha dor.

Perdoa-me!
Perdoem-me…

Não resisti,
e alucinei-me com as palavras
nesta loucura das tentativas defraudadas
não resisti,
e degolei o poema
num gesto destemido
insano e sórdido
no silêncio da fraqueza
e na sombra da vergonha…

Escondi-me entre as letras
num refúgio desprendido
para assim poder ser
tão louco como as palavras…

Agora ninguém me vê
ninguém me sente
mas eu ando por aí…

(guardado em segredo…)

sábado, novembro 22, 2008

Brisas do Mar



Quadro a óleo pintado por Helena Paz


Com a chancela da Edium Editores, no próximo dia 23 de Novembro, pelas 15.00 horas, no Museu do Vinho da Bairrada em Anadia, será apresentada a obra “Brisas do Mar” da poetisa Vanda Paz. A autora, enóloga de profissão, nasceu em Lisboa em 1970 e reside na Anadia. A apresentação estará a cargo de António Paiva.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Delírio

Trago no rosto
os desejos mais incontidos
os mais inalcançáveis
onde só os meus olhos chegam…

Trago nos braços
o amparo de meu querer
mesmo sem poder…
trago-o bem guardado.

Trago nas pernas
o caminho das vontades
ilimitadas…
que construo com as minhas realidades

Sobra-me o coração que não trago
outrora abandonado…
cheio de luz e amor
num lugar ainda não encontrado.

Trago esse olhar
que renasce no rosto pungente
entre braços e pernas cadentes
trago um coração que chora
grita
em forma de gente…

Sou a cabeça perdida
cambaleante mas erguida
um resto de corpo
que desaparece no meu próprio sopro

Já fui noite
luar
já dia me fiz
e num vagabundo açoite
também morri…

quinta-feira, novembro 20, 2008

Mato-te prosa…

Escrevo com um rancor ácido para que me odeies. Busco cada palavra mais pesada e dura para que assim possa ser-te um fardo.
Sentes cada frase como uma tortura, maliciosa, como todas as que já te fiz. Sofres, em silêncio, para que não denuncies estes maus-tratos que te ofereço com um troféu de caça e pensas que é por amor que o fazes. Não! Não é por amor, é por medo, um medo constante que está dentro de ti. Medo do meu olhar profano ou do meu sorriso vampírico, medo de cada gesto que reprova cada pensamento teu. Medo de ti, que não existes, neste mundo de sortilégio onde sobrevives…
Tantas palavras caiem e outras que fogem de nós, sem que alguma te ajude a superar esse mau momento que, impavidamente, deixo ao teu colo. És a mãe dos meus tormentos!
Prosa. Não! Não insistas comigo, nem tentes ousar desafiar-me, mato-te prosa… com o meu respirar e com esta mão que não quer parar!
Cada frase que escrevo é um golpe profundo no âmago da tua essência. Sem que sintas a mesma dor, sem que vejas o sangue que perdes, és um fim que acontece aos olhos de todos e eu, feliz por ver-te sofrer, delicio-me, impune, neste marasmo das letras escondidas, fugidias, que não querem encontrar-me porque sabem os que lhes espera.
É a morte! Mato-as, como mato qualquer prosa que nasça de mim…
Ninguém pede, ninguém impede e eu mato-te prosa…

quarta-feira, novembro 19, 2008

Entrar no teu mundo

Há um sorriso libidinoso
que abre essa porta
do teu mundo…
Há um gesto despercebido
que incentiva
que faz acreditar
que faz sonhar…
Há um pensamento
que ensina a andar
faz-me o caminho
o sentido
e a vontade acontecer…

Só tu não sabes,
não imaginas
mas estou a entrar no teu mundo!

terça-feira, novembro 18, 2008

Ontem

Ontem morri nos teus braços. Foi cumprido o meu último desejo. Nem pensei em ti, por ser tão egoísta, quis morrer assim.
Tínhamos gasto as últimas horas no aconchego de um lar emprestado, cheio de requintes, que nos concedeu mais entusiasmo e melhorou os nossos momentos íntimos.
Foram de intenso prazer, de uma sedução ímpar que os últimos instantes se preencheram. Só a Lua cheia foi testemunha dessa nossa noite. Só ela espreitou pela nossa janela, entreaberta, e seguiu cada passo que demos…
O silêncio da lua foi comigo e tu nunca contarás o que aconteceu. Ontem morri nos teus braços e levei comigo este sonho em que viveste. Sem que o saibas, morreste também envolta ao meu corpo. Morreu um amor que nunca existiu, nos braços de um sonho que não se tornou realidade. Só o ontem permaneceu e hoje nada mais importa.

segunda-feira, novembro 17, 2008

"Porque o coração quer ir contra a razão" – prosa

Este meu corpo trémulo quer que o teu corpo floresça debaixo do meu olhar…
São mágicos rituais que se envolvem nas mestrias dos meus desejos…
Há uma parte de mim que foge destes momentos.
Tenho um espaço próprio, dividido, em que as sensações movimentam um remoinho feito de mim… Há loucuras que residem e vagueiam nas veias, que correm como um sangue insano, agreste, e em combustão permanente. São esses, os meus dias, que me fazem sofrer numa exactidão escondida. Espantadiça.
Há uma luta, sofrida, incontida, que apaga lentamente o que resta de mim.
Oh! Que loucura tenho guardada só para mim que me afaga a intenção e acende a chama dos gestos, das palavras e das ilusões…
Tenho um coração que agarra o mundo em soberbos riachos de lágrimas despedaçadas como uma tristeza que acaba num gesto meu, agora, sem retorno… Qual noite que presenteia a acção requerida, aplaudida, pelo magno fim eminente?
Tenho também uma razão por validar que estremece o mesmo gesto e aquece a mais requintada emoção.
Sou um corpo dividido, exposto ao meu querer, que se serpenteia por entre um sim e um não. Sou uma mulher perdida ou um homem por encontrar… Serei sempre um corpo por alimentar.
Tenho uma parte acertada, assertiva, que vive em uno, seja qual corpo for, de mim, que designo como coração.
Traz-me indissolúveis momentos que guardo. Fomenta-me essa paixão que ateia a verdade dos meus olhos e assim esconde a noção, dilapidada, da história da minha condição.
Sobra-me tudo do nada que nunca existiu, falta-me tudo do pouco que morreu nos dias que passaram por mim, em qualquer conjuntura.
Há um ensejo flagelado, em que os exequíveis acontecimentos, se cruzam no meu íntimo… Tudo e tão-só, porque o coração quer ir contra a razão!

Por favor ajuda-me!
Ajuda-me já!

domingo, novembro 16, 2008

"Porque o coração quer ir contra a razão"

Tenho presa a minha vontade
nessa teia surpresa
dos dias esquecidos…
tenho um coração
dilacerado
que no cansaço das noites
adormece nas lágrimas
dos meus sentimentos perdidos…
Rasgo a emoção
que escrevo na folha da minha vida
rasgo-a… em silêncio.
(Só eu sei desse sofrimento.)

Porque o coração quer ir contra a razão
se o meu vazio
é preenchido pelas ausências
pelas tormentas
que marcam um cravado… Não!
Não vás por aí… diz-me a razão
não fiques, não peças… perdão!

Trago no peito
essa pergunta sem resposta
que mata os meus instantes
e apaga qualquer noção
dos meus sonhos…
tenho um coração
que me empurra para o devaneio
em que me sobra a razão
que entremeio me diz… Atenção!

Porque o coração quer ir contra a razão?
Porque a razão não quer estar no coração?

Um dia saberei
as respostas que procuro
sábio momento seguro
que agradecerei…

Tenho presa a minha razão
nessa teia da verdade
dos dias que chegarão
bem adentro da minha realidade…

E o coração caminhará com a razão
de mãos dadas
num mar de felicidade.

Hoje… já espero por ti!

sexta-feira, novembro 14, 2008

Esse olhar que me lê!

O teu olhar chegou. Ansiava por ele faz tanto tempo, porque em cada momento que passa e que não o sinto, para mim, é uma eternidade. Faz-me falta.
Esse olhar que vê o que tento esconder, que sabe desmanchar as linhas do meu rosto que clareiam laivos de uma alegria semelhada. E num silêncio colossal, esse olhar lê-me os gestos que se seguirão, os pensamentos e até as mais magnânimas vontades…
É nesse momento que a solidão abala sem destino. Os olhares trocados chamam as nossas vozes, que inventam as conversas mais diversas e que se acomodam aos nossos sorrisos, entre muitos risos empinados. Então já somos feitos de alegrias que nascem dos instantes que criamos…
Esse olhar só teu faz-me falta. Tu que, por vezes o escondes, que guardas para um amanhã, mesmo que não o seja para mim, também me fazes falta.
Tenho medo da solidão. Muito medo. Sendo um autêntico apreciador das alegrias que ofereces e da vida que cresce em cada sorriso deixado à sorte.
Já quase não sinto esse olhar, meio húmido meio esperançoso, que procura outro ensejo… Amanhã voltarás para me leres e isso chega-me!

quinta-feira, novembro 13, 2008

Transmutação

Tenho contos
plantados no meu roseiral
e nas quimeras da vida
desbravo as minhas ilusões.
Tenho sonhos
perdidos num umbral
dum paraíso sem igual
que se esconde
que se afasta…

Tenho um sorriso
como arma
um desejo primário
como flor
tenho um caminho preenchido.

Vivo nos contos
desse meu destino…

Um dia morrerá o personagem
para que nasça o homem!

quarta-feira, novembro 12, 2008

Carta ao Monstro

Desperto Monstro, que nas querelas dos teus pensamentos massacras as sombras com prospectos demagogos e uma fugaz insularidade.
Porque te anuncias ao vento contra os que amam a escrita e destróis os caminhos construídos pelas palavras?
Jamais serás indigente para que peças sacrifícios dos demais obreiros deste mundo que se perde a teus pés… Grotesco herdeiro do mal que abunda num terreno espalhado como um nevoeiro apocalíptico que espera pacientemente o seu tempo para desaparecer. Não!
Serás sempre a besta que se esconde nas palavras dos outros, que sorri nos lábios alheios e que morde a sombra da sua própria alma.
Não percebes que tens o tempo contado e que te foge a cada instante?
Não entendes que deixaste de existir aos olhos dos que ainda vivem?
Não tens identidade feita, nem espaço, és eremítico, porque não sabes coexistir. Renegado. Trazes em ti os sabres da morte anunciada. Escorres o sangue, o suor e as lágrimas dos que se esforçam para que o mundo consiga sobreviver.
Não!
Não entendes?
És a tua própria morte assumida, assinalada, erecta, com o condão de seres o termo imutável do desespero e do desacato.
Acorda desse feitiço feito sonho que nunca passará dum pesadelo infame e depravado.
Nasceste Monstro e assim continuarás pelas trevas dos inglórios tempos do além.
Deixa-nos. Inebriado desejo que tens que vives em função de cada passo, que respiras cada palavra com sendo tua. Não vingarás com a atrocidade que alimenta a tua serpente que julgas ser um cérebro, quiçá, só teu… Amaldiçoado seja!
Afasta-te.
Leva contigo a tua morte e convida para essa viagem os malfeitores terrestres que abundam por esta encantada caminhada. Leva-os contigo. Ressurge noutro tempo, noutro local em que os espectros sejam imperantes e existam em compleição igual a tua.
Serás então emergente e ainda assim, bem recebido por essa, que designo de gente…
Se esta carta chegar tarde, que assista ao teu funeral e que regresse com as palavras inebriadas da notícia que ansiamos receber.
Todos por aqui procuram a paz. E não te pensámos capaz.

Vai-te! Ó derradeiro híbrido...


Paraíso secundário, 31 de Janeiro de 1331

domingo, novembro 09, 2008

Apresentação de “no PRINCÍPIO era o SOL”, de: Mel de Carvalho

2008-11-08 - Salão Nobre do Paço do Sobralinho
(concelho de Vila Franca de Xira)

Apresentação de “no PRINCÍPIO era o SOL”, de:
Mel de Carvalho

(Edium Editores, 2008)


Um agradecimento a todos os presentes, que dão assim vida, dão sentido ao esforço de manter os laços culturais neste mundo tão vasto e apressado, neste dia tão especial para o movimento literário e para quem se envolve nestes projectos da escrita, e que sabe o quanto é necessário e importante, que cada um de nós possa dar o seu contributo em prol das artes.

Agradeço também à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e a Junta de Freguesia do Sobralinho o facto de patrocinarem esta apresentação num espaço próprio e de grande relevo.

À Edium Editores, um agradecimento permanente, pela conduta editorial, pelo esforço, pelo critério de selecção. Já é uma editora de referência que cresce obra após obra e que será, seguramente, a curto prazo, ainda mais reconhecida no panorama literário.

O meu agradecimento especial à autora, também pelo desafio do convite para apresentar esta obra, que muito me honra, por ser seu fã, assumido, desde dos primórdios que conheci a sua escrita através da Internet, e, em especial, por poder tê-la no meu núcleo de amizades e das escritas.

Com a sua presença constante nos eventos literários dos poetas da nossa praça, que lutam pelo crescimento da escrita, Mel de Carvalho é um nome largamente conhecido, ao qual associamos a palavra qualidade. É alguém que, através da sua escrita, nos oferece, garantias de boas leituras.

Pessoa dinâmica, lúcida, faz o seu percurso literário com rigor e bem sustentado em cada passo que dá ou em cada poema que emerge.

Estas são apenas algumas das razões para o meu agrado em estar aqui para apresentar este seu novo livro “no PRINCÍPIO era o SOL”.

Mel de Carvalho bem merece a nossa presença.
E que nós possamos estar sempre à sua plenitude para podermos desfrutar o quanto já nos deu e o tanto que ainda tem para nos dar.

Por ora, esta obra, que pode ser uma viagem de sonho, onde podemos entrar, ao ler, num mundo amplo, de géneros, de sentimentos, e de sentidos.

É marcada por duas linhas de força:

1 - Antítese presente entre luz e sombra, dia e noite, que preconiza uma viagem para o desvelar de afectos, talvez amor, como refere Júlio Saraiva no prefácio. Mas o certo é o desbravar por entre matizes, por um vasto espectro de sensações que as palavras revestem;

Exemplos: "No princípio era o Sol, o primado do Sol" e, dando uma carga vital às palavras: "No princípio era o Sol e as palavras, / e o sonho e a utopia."

Palavras matriz: "luz", "novo dia", "sombra", "contraluz", "noite", etc…

2 - Há em Mel de Carvalho o ensejo de aproximar a sonoridade da sua Poesia (pulsão interior, registo intimista) do primado da rua (pulsão exterior, recolha e devolução do que se apreende). Por isso recorre amiúde à apóstrofe para, de uma forma gráfica, nos dar não a sugestão, mas a concretização da oralização da escrita.

Exemplos: "onde m'oculto em alusões" ou "cavalo ausente d'arreio


“no PRINCÍPIO era o SOL” transporta-nos pelas correntes de cada verso ao transposto momento das sensações e impulsiona-nos o desejo de ler, ávidos de novos e reconhecidos prazeres. Cada leitura enche-nos a alma.

Esta obra enriquece cada momento que conferimos e dá-nos a possibilidade de “navegar” nas letras, extraindo de cada palavra o suco nutritivo, que fortalece o desígnio para o qual se fez cada poema.

Cada um de nós pode, com a leitura desta obra, iniciar a viagem, sabendo por antecipação que nela viverá intensos sabores e que tonificará, ao virar de cada página, a sua alma e o seu sonho.

Boas viagens.
Sempre com as boas leituras que este livro nos brinda.

Obrigado.


Paulo Afonso Ramos
(08/11/2008)

quarta-feira, novembro 05, 2008

CONVITE - Lançamento do livro "No princípio era o Sol" Mel de Carvalho




Será apresentada a 8 de Novembro a mais recente obra da poetisa Mel de Carvalho, “No princípio era o sol”; o evento terá lugar no Salão Nobre do Paço do Sobralinho (concelho de Vila Franca de Xira) pelas 16.00 horas. Obra e autora serão apresentadas por a Prof. Dra. Maria de Lurdes Fonseca e pelo poeta Paulo Afonso Ramos. Mel de Carvalho nasceu em Lisboa no ano de 1961; é licenciada em Sociologia do Trabalho pela Univ. Técnica de Lisboa prosseguindo em doutoramento pela Universidade Nova de Lisboa. Publicou em 2007, “Sibilam pedras na encosta”; regista também diversas participações em publicações antológicas.


Se puder, não falte.

terça-feira, novembro 04, 2008

O que eu não quero revelar

Há coisas que não quero revelar e, no entanto, escrevo-as. Como há quem leia um título destes e se apresse a ler as palavras que se seguem…

Há um mistério difundido nesta frase que aparenta muito mais do que realmente é.
Antes que mais perguntas se soltem, que fiquem cientes que, nestas palavras, não encontrarão nenhuma revelação porque eu não quero. Estamos assim todos esclarecidos.
Quem não quiser continuar a ler, aproveite agora para sair deste texto, antes só meu, e que agora também é seu… mas ninguém abandona o que é seu, mesmo que nada já lhe diga. Não! Abandona. Porque se nada lhe diz, deixou de ser seu, deixou de fazer sentido (como estas palavras demonstram… em que nada faz sentido) por isso, por favor saia deste texto já!

Muito bem. Agora que estamos sós (só tu ficaste aqui, que coragem!), mesmo que não veja o teu rosto (imagina-lo é a sedução que se apresenta de imediato) tu podes ler estas frases pouco alinhavadas mas que preenchem a tua atenção. Podes pensar que nada disto é o que esperavas e que foge ao que costumas ler. Muito bem. Assumo a minha inquietação de escrever tudo, menos o que não quero revelar. Por favor, pede ao teu pensamento para não insistir, pede-lhe porque não vou escrever o que gostavas de ler, aqui e agora. Obrigado.

Agora que o teu pensamento está alinhado e os teus olhos percorrem as letras descompassadamente, talvez seja a melhor ocasião para te dizer que gostava tanto, mas tanto, de escrever coisas lindas, decoradas com poesias e flores de vento. Gostava de pintar o quadro que fosse imortalizado, gostava de esculpir a estátua que marcasse a reviravolta deste mundo e, se tanto tão chegasse, gostava que visses a alegria de um beijo ou a emoção das palavras, das minhas palavras escondidas no que e que não quero revelar…

Agora que estamos sós, em que apenas esta leitura nos separa, talvez fosse o momento oportuno para divulgar-te um segredo que nunca quis revelar, que não quero revelar mesmo que saibas as formas do seu corpo ou as tonalidades do seu olhar, mesmo que sintas o som do seu sorriso, eu fico, aqui perdido entre um lugar esquecido e outro já preenchido e nada digo… Penso e mando dizer ao meu pensamento que não me obrigue a pensar no que quer. Agora que termino este texto, sempre nos limites do não, peço que as palavras fujam da minha mão e que se concentrem num lugar qualquer mas perto é que não!

Já débil de tanto esforço, de tanto proteger a mensagem que não quero que leias, vou, passo após passo, afastando-me deste texto. Já não meu, talvez nunca tenha sido, e também já não seja teu, (será que alguma vez foi?) porque afinal o que não quero revelar é tão-somente algo que eu não podia revelar pela simples condição factual de não estarmos sós, deste texto não ser só nosso, e de poder ter o prazer de conseguir escrever sem ter dito tudo… o que não quero revelar!

Ficou-nos o prazer de imaginar os outros rostos que respiravam sobre os nossos, devolutos, fogem agora insaciáveis na procura de outros textos e de outros segredos por revelar… O que eu não quero revelar, não revelo, nem é preciso, porque tu entendes…

Os outros. Perdoem-me… só porque escrevi…

domingo, novembro 02, 2008

Perfeito

Nasce mais um dia de sol. Os sorrisos são luzes da ribalta que, num marasmo de gente, rolam pelas ruas do olhar. Uma voz grita pelo teu nome… estremece um coração que se perde no meio da multidão.
O teu corpo é acariciado pelos olhares que passam e o meu rosto veste o vermelho dos encantos e tenta passar despercebido. Os teus olhos cruzam-se com os meus, e num silêncio cúmplice conversam entre si, substituindo as palavras que não conseguimos dizer… olhos nos olhos ignoramos o que se passa em redor e transmitimos a dor que temos por vermos este mundo que lentamente perdemos, por sentirmos que cada dia que passa aumenta o desperdício de tempo que também nós esbanjamos…
Olhos tristeza, olhos esperança, umas vezes são os meus e noutras os teus…
Cruzados num espanto que o destino quis e nunca o aceitamos entre os dias que afastamos do nosso saber.
Perfeito é o que sentimos. Perfeito é um sopro do peito um dia voará neste céu azul que no calor do sol desperta e anseia a liberdade.
Um dia tudo acontecerá… seja o que for será!
Perfeito…