terça-feira, junho 30, 2009

O poema jazz

jazz na bitola do ouvido
em que o desejo se eleva
num misterioso contentamento
e o pobre enternecido
se deixa cair nas profundezas
desse luar
ora cintilante
ora transparente
como Zeus o pensaria.

jazz é um carnudo
código de comunicações
outros dizem, entre composições,
que são melodias celestes
e o tal pobre constrangido
no silêncio a vapor
fecha os olhos da dor
e sente cada andamento
como seu, mesmo que seja teu.

jazz é um poema perpétuo
balada etérea sem condição
de um corpo fátuo
seja pobre ou não!

domingo, junho 28, 2009

O poema que invento

nasce a palavra
na lucidez do momento
uma a uma alinham
no diapasão
e correm de mãos dadas
dando cor ao pensamento
e formam a mensagem
na construção
do poema!

e se ao expor
num perverso dilema
há quem o leia
como um actual tema
ou encontre no verso
a razão da teia
há quem o veja como arte
ou encontre alguma dor
mas, de verdade, é apenas um poema.

e como está escrito
com palavras de vento
fica aqui descrito
vale o que vale, a cada momento.

sábado, junho 27, 2009

Criatividade

A Criatividade é uma longa família. O pai – Criativo – foi pai e mãe do então embrião. Depressa se multiplicou e que, assim, deu origem a variadas mas interligadas extensões. Já volto a esta questão.
Dizia eu que o crescimento da família foi tão sustentado e por isso forte, que deu azo a existência de muitos membros com os mais diversos nomes. Hoje há nomes que todos conhecemos e facilmente associamos:
O Criador, entre outros, o Fecundante, Fecundo, Inventivo, Inventor, Gerador, Originador ou o Autor, não passam de esmerados primos, que, numa outra linguagem paralela, são baptizados por sinónimos.
Até aqui, nada de novo, a questão da família está exposta, bem enraizada e recomenda-se.
Agora importa voltar, como o prometido, às várias extensões interligadas e é aqui que, por vezes, existe alguma dúvida, ou pouca preparação, para se efectuar uma abordagem dinâmica e espontânea.
É que os membros desta família são, por natureza, exímios talentosos para com o que se designa por arte. Se abordarmos apenas uma, a escrita, podemos verificar a causa – efeito, sabendo que, por princípio, as bases se aplicam a todas as frentes da outra família que é a Arte. Diria que ambas as famílias – Criatividade e Arte – fazem um casamento perfeito.
Assim, ao conceber algo de novo, tudo, e todas as temáticas, podem ser abordadas. No entanto, para isso, é necessária muita perícia. É preciso que a causa seja sentida e o efeito consiga fazer toda diferença e que acrescente algo de novo, quer a quem, no caso, escreve e, principalmente, a quem lê. Tem que haver uma mensagem. Tem que introduzir interesse e prazer.
E quando isso acontece, na liberdade de criar, qualquer tema é superiormente abordado, resultando, daí, uma mais-valia para todos.
Foi assim, e ainda assim é, que o mundo literário evoluiu, obviamente com reflexos positivos para a sociedade.
O resto, o resto são dogmas embebidos em preconceitos inconscientes e enraizados, contra os quais urge apurar, instigando uma aprendizagem evolutiva e salutar.
Todos ganham e as famílias – Criatividade e Arte – agradecem.

quinta-feira, junho 25, 2009

Na foto de Zarco


(foto tirada da Internet)


Qual navegador fidalgo
De Zarco como nome estreito
Padecendo de algo
Enclausurado no peito.

No silêncio do olhar
Secreto. Elege a faceta
Concreto. Não se deixa resignar
Nesta posse de atleta.

Há uma cara camuflada
Pela barba das tempestades
Onde o pensamento passeia.

Há desígnio de camarada
Na ternura das idades
Mas é a voz que se alteia.

quarta-feira, junho 24, 2009

Cavalo Branco

tinha um cavalo branco
esbelto e inteligente
que a galope artístico
desenhava no chão
as letras da sua intenção
mas Eu discretamente
dava-lhe a mão
para a rédea curta…
pois então!

e de tempos em tempos
vinha mais um pinote
exacerbando a liberdade
que não tinha
mas Eu bem o controlava
vendo e cortando, tudo o que
não concordava
até que um dia
o meu cavalo fugiu

em branco ficou a minha quinta
no branco da ausência e da tristeza
tinha um cavalo branco
que em tanto branco deixou um vazio.

segunda-feira, junho 22, 2009

Convite "Do Mar e de Nós" - Poesia de José-Augusto de Carvalho



O autor, José-Augusto de Carvalho, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Do Mar e de Nós”, a ter lugar na Casa do Alentejo, Rua Portas de Santo Antão, 58, Lisboa, no próximo dia 27 de Junho, pelas 16:00.

Obra e autor serão apresentados por Xavier Zarco.

domingo, junho 21, 2009

Convite “Canção do Exílio” - Poesia de Gonçalo B. de Sousa


O autor, Gonçalo B. de Sousa, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Canção do Exílio”, a ter lugar na Casa do Alentejo, Rua Portas de Santo Antão, 58, Lisboa, no próximo dia 27 de Junho, pelas 19:00.

Obra e autor serão apresentados por José Félix.

sexta-feira, junho 19, 2009

Convite - "Pastoreio" em Lisboa


O autor, José Ribeiro Marto, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Pastoreio”, que recebeu o Prémio Litterarius do Clube Racal de Silves (Poesia), em 2007, a ter lugar no Palácio Galveias, Lisboa, no próximo dia 20 de Junho, pelas 19:30.


Obra e autor serão apresentados por Celeste Lima de Freitas e esta sessão contará com a leitura de poemas por Graça Vasconcelos e Melim Teixeira.


Se puder, divulgue e apareça.

Obrigado

segunda-feira, junho 15, 2009

Crónica sobre o livro "Amor dos Babuínos"

Amor dos Babuínos – de Miguel Cardoso Pereira

Quando recebi este livro, reaprendi aquela velha lição de vida - não devemos ligar aos preconceitos. É que ao ler o título do primeiro capítulo achei que o livro jamais seria editado, porque ninguém escolhe “Hoje acordei morto”. Obviamente que, com a continuação da leitura, ficou mais uma vez provado que os preconceitos são desajustados e, muitas vezes, errados.
Com uma leitura atenta e sentida, porque neste livro não há alternativa, fui descobrindo a inteligência da escrita do Miguel Cardoso Pereira. Disse-o na apresentação, mas posso agora reafirmar, indo até mais longe, dizendo que, se entenderam que queria dizer que o escritor é uma pessoa inteligente, aceito-o e subscrevo. Já agora, justiça seja feita, que escreve muito bem. Fica esse reforço, agora que estamos na altura futebolística de aparecerem aos molhos.
Também concordo com o que disse o Vítor Serpa na apresentação do livro «Para mim é um livro. É isso que os escritores fazem. Não escrevem romances, escrevem livros.» Embora a sociedade não abdique de rótulos e este “Amor dos Babuínos” possa ser rotulado de Romance.
Hoje, dois dias após o lançamento, é-me grato ler no jornal “A Bola” o destaque merecido e, com alegria, o meu pensamento empurra-me para todo o trabalho dedicado do Miguel, para o apoio dos seus amigos que, julgo nunca lhe recusaram e para os pormenores que passam ao lado de quem compra este livro e, nesse aspecto, recordo, como exemplo, a forma engraçada e empenhada como foi conseguida a foto da capa pelo próprio Miguel e pelo nosso amigo Gonçalo Lobo Pinheiro, um fotojornalista de grande craveira que também tem o dom da escrita, no caso, na poesia.
Enfim, recordações e apostas, que, um dia, me trarão um sorriso gigante de satisfação e de o dever cumprido.
Hoje o tempo é de alegria e de trabalho, amanhã quando o Miguel Cardoso Pereira for mundialmente conhecido espero poder afirmar – Ele é meu amigo. E para os amigos queremos o melhor, independentemente se estiverem connosco ou mais distantes. Certo, certo é que este rapaz vai longe neste caminho que, pela frente, o desafia. E disso tenho a certeza, não engana, porque o moço é mesmo bom.
Agora vamos lá a trocar essa notinha de dez euros por um punhado de palavras mágicas entre o amor e a morte que o “Amor dos Babuínos” nos entrega com uma dedicação única.
Boas leituras.

Informações em http://www.temas-originais.pt

(a página 38 do Jornal "A Bola" de 15/06/2009)

domingo, junho 14, 2009

Resquícios

Escorre
o pensamento fugaz
num vácuo de memória.

Nasce a ideia
do homem que ainda sobrevive.

sexta-feira, junho 12, 2009

As palavras sucumbem

As palavras transformam-se
Na magia do nosso querer
As palavras são rostos
Animais, ou flores campestres
Vivem na nossa alma
E brilham na íris de uma criança.
As palavras,
Adormecem na loucura da noite
E ficam presas no sentido
Desse moribundo efeito
As palavras vivem
Amam
E também sucumbem.

domingo, junho 07, 2009

Escola EB1 Heróis do Ultramar – Em Évora

No passado dia 5 de Junho regressei, pela terceira vez, a esta escola de Évora. Já tenho, nos professores, bons amigos e dos meninos os olhares sorridentes de quem sabe receber, partilhar e dar a verdadeira essência de cada um.

Sempre que sou convidado, aceito com alegria, e os momentos que passo junto destas pessoas marcam-me sempre de uma forma especial.

Eles dizem-me que aprendem comigo, e eu, confesso que aprendo muito mais com eles do que alguma vez possam imaginar, porque estar junto de tantas crianças tem uma magia única.

E hoje escrevo, neste meu sítio, uma pequena história que, orgulhosamente, faço questão de partilhar:

Como sempre, quer os alunos quer os professores, receberam-me com um carinho encantador e, como se tanto não bastasse, ainda fazem alguns trabalhos que me dedicam e/ou oferecem.

Desta vez, entre outras coisas, ofereceram-me um dossier recheado de poemas feitos pelos alunos. Ao receber este prémio, prometi-lhes que escolheria um para partilhar no meu espaço na Internet.

Não foi uma escolha fácil, até porque vos falo de crianças de tenra idade, que escrevem com o coração, com as palavras cheias de verdade e emoção, e que são, todas, merecedoras de um destaque justíssimo.

Ainda assim, escolhi um poema, quer pelo poema em si, mas especialmente pela história escondida que existe por detrás desse escrito e que faz toda a diferença. Conto-vos rapidamente:

Quando fiz minha primeira visita, alunos e professores, elaboram um excelente trabalho sobre a poesia, e em especial, sobre o meu primeiro livro “Vinte e Cinco Minutos de Fantasia” e o Gonçalo confidenciou à sua professora qualquer coisa assim: - “a poesia é tão difícil que eu nunca conseguirei escrever um poema”.

Nada mais quero acrescentar, apenas um gosto especial de poder partilhar este poema, escrito na escola e de uma forma bastante rápida (faz-me lembrar alguém):


Criança

Ser criança é ser amor
É brincar com os amigos
E não sentir dor
É fazer parte de um Mundo à parte do Mundo

Ser criança é morrer e ressuscitar nos momentos difíceis
É saber crescer com uma mão amiga
É saber viver nos momentos mais emocionantes
É saber ter vida

Ser criança é viver para sempre
Ser criança é ter esperança
Ser criança é ser amada
Ser criança é pura e simplesmente ser criança.

Gonçalo (9 anos)
3.º Ano

sexta-feira, junho 05, 2009

Entraste na minha vida…

Flores. Não foram as flores do campo que coloriram os momentos do meu passeio. Nem o azul do céu que enunciava os fios de um sol harmonioso e que aquecia a alma de quem desbrava o seu próprio caminho.
Este percurso foi adornado pelo teu olhar quando nos cruzamos como dois desconhecidos.
Lembro-me da solidão que transportava no meu corpo e não podia esquecer do teu sorriso, que irrompeu do meu olhar pouco discreto.
Lembro-me também dos teus cabelos longos e soltos que denunciavam um vento ameno que te empurrava na minha direcção.
Foi nesse momento que senti que entravas na minha vida e nem dei importância porque nem acreditei que tal fosse acontecer.
Lembro-me que foi mais um desejo que passou pela minha cabeça, daqueles sem futuro, que, por vezes, ocorrem do nada.
Lembro-me de nos cruzarmos uma segunda vez no mesmo dia, onde finalmente pude retribuir um sorriso que estava em dívida.
Dois corpos cruzavam-se sem regras ou noções, sem imaginarem que seguiriam outros caminhos de mãos dadas. Quem poderia descobrir?
Entraste na minha vida de uma forma tão natural como as flores que aromatizavam o nosso caminho, e deste-me uma luz só igual ao sol forte desse primeiro dia.
Ainda nem sei se te recordas desse dia, em que entraste na minha vida, nem importa saber porquê, basta existires ao meu lado e preencheres as minhas memórias com cada passo entregue no meu presente.
Basta-me.

segunda-feira, junho 01, 2009

criança

entre as brincadeiras
desejando maravilhas
para um futuro longínquo
em que o tempo fugia em segredo.

quanta loucura
com exactidão
quanta bravura
sem noção
nas aventuras inacabadas

hoje prendo-me na nostalgia
desse olhar consumido
pela esperança

sinto-me a mesma criança.