segunda-feira, março 31, 2008

Janelas do Coração


(Foto de: Miguel Angel de Arriba Cuadrado)


Da casa em ruínas, abandonada pelas correntes de um presente em que fugimos do campo, talvez pela fuga ao trabalho na terra, ainda recordo os espaços que cresceram em mim e que assim me ajudaram a crescer…
Os soalhos de madeira que rangia quando nos escondíamos nas brincadeiras de crianças e as janelas que, na inocência, saltava à procura das aventuras destemidas do amor. Sim! As maiores loucuras eram pedidas pelo coração…
Recordo esses momentos com uma angústia destemida, ao olhar para aquela casa à espera dos seus últimos dias. A velhice que o tempo não escondeu também trouxe esta realidade tão dura como a que me distanciou da minha infância.
Também me sinto um velhote que alimenta a alma com recordações fortes e coloridas, cheias de momentos alegres e mágicos… Hoje, em cada recordação, abro uma janela do meu coração.
A nossa casa era feita de pedra e cimento por fora, mas por dentro, era forrada a madeira que dava um calor e um ar campestre, num ambiente leve e de constante ternura.
O carinho das assoalhadas, cada uma com a sua responsabilidade, era patente de uma forma natural. Recordo-me que gostava em particular da sala da biblioteca. Talvez por ver o meu pai sempre por lá depois do jantar, sentado no seu cadeirão de leitura, de perna cruzada, com o seu cachimbo na boca e um livro ao colo. Fascinava-me. Fascinava-me vê-lo, e desejava secretamente, que, em adulto, tivesse a minha própria casa com um escritório assim, secretária de madeira trabalhada e um candeeiro de sentinela junto da poltrona. Sempre acompanhado pelas lombadas dos inúmeros livros que pareciam olhar-me e chamar por mim…
Recordo o pátio em terra batida onde jogávamos á bola e assim justificávamos o ralhar da nossa mãe porque, no fim de cada dia, a roupa estava pejada de poeira.
Da cozinha tenho guardado o esconderijo dos bolos que, secretamente, abastecia o meu desejo para preencher o bocadinho que a gulosice arranjava, pois os lanches eram fartos em outros comeres, mas o meu instinto de predador queria doces…
E no meu quarto, lugar das minhas descobertas, carpia os amores não correspondidos e alimentava os sonhos que aqueciam a minha alma. Escrevia bilhetes de esperança que não conseguia entregar. Fazia o meu teatro da vida para que estivesse preparado para num encontro do destino pudesse declamar poemas de conquista à menina dos meus desejos e assim, numa jura de amor, firmássemos um contrato vitalício de união.
Tenho saudades das árvores de frutos, colhidos sem critério, apenas ao sabor de um gosto de quem queria comer uma fruta vistosa e apetecida. Lembro-me que a manga era a minha eleita. Por acaso também era a maior árvore do quintal.
Agora tudo é efémero. Dura apenas o tempo em que abro cada janela do meu coração.
Saber-me feliz nesse passado bem preenchido é a maior força que recebo para entrar pela porta do meu destino.
Hoje já não tenho esse casarão, nem as forças da juventude rebelde! Mas as janelas do meu coração estão abertas… e por elas, deixo-me fugir… em novas loucuras do meu querer!
O que me falta em tempo e em força, é-me compensado pelo conhecimento… do Amor!
Continuo a ver-me sorrir, envolto, na felicidade da vida…

domingo, março 30, 2008

Vagabundo das Palavras


(Foto De: José Pereira-Zito)

Vagabundo! Como que fosse feito de um mundo de aventuras, parti em busca da vida boémia das palavras, não que fosse uma vida descuidada, mas no sentido de poder dar algum alimento à minha alma, numa viagem desejada ao nosso querido Alentejo.
Na rota de dois eventos literários, a oportunidade de desfrutar de duas terras prometidas de um vasto paraíso interior, ou escondido, designado Alentejo.
O corpo, fatigado do trabalho árduo de transportar essa mesma alma, foi nutrido à chegada pelas carnes da região que foram superiormente acompanhadas por umas migas de espargos. Já a alma, essa exigente rebelde, pedia muito mais, para se saciar… qual pedido interpelado? Se nem tão pouco foi necessário qualquer tempo para que os sorrisos aquecessem a minha paz interior. E assim as palavras estiveram sempre presentes! Palavras elevadas de pura magia…
Perpetuadas nos livros, acompanhantes inseparáveis, ou nas bocas dos declamadores, elas foram uma fonte inesgotável de uma pureza incontida que sabiamente alimentava as almas. A minha, e quiçá a de todos os presentes.
Aventureiro! Dessa nobreza de ricos episódios de sapiência em que fui brindado, e em que a paisagem serena nos brindava, eis que o tempo nos fugia e a alegria incontida se deixava seduzir. Vi amigos da palavra, encontrei camaradas de estrada e fortes mentores que o meu estado vadio desejava numa procura inconsciente.
Vi palestras conseguidas e preciosas obras que trouxe comigo. Senti-me! Senti-me feliz de o meu crer, na junção do meu outro querer, estarem alinhados no mesmo sentido.
Senti o valor de quem tanto dá. Senti a sua paixão, e, entre tanto sentir, senti esse desígnio dos fidalgos que, humildemente, percorrem os espaços por preencher numa missão consciente e necessária.
Entre o que vi, e o que senti, fui moldando o vagabundo em mim, transformando-o num menino de olhos brilhantes a porta do seu paraíso. De uma alegria imensa que gerava sorrisos alargados e cândidos.
E no tanto que recebi, com essa inaudita riqueza do acto, de dar sem pedir, essa clarividência do ser, com que fui brindado, fui consciencializando-me que essa magnitude é, e será, o meu alimento e a minha roupa com que me apronto nesta longa caminhada.
E só lamento que não consiga transmitir esse meu longo sentir, que no recanto da minha intimidade uma lágrima de alegria simboliza!
Que um dia, nem seja só por uma vez, num momento singular que seja, possa retribuir!

Um vagabundo perpetuamente grato…

sábado, março 29, 2008

Eventos Literários



É hoje! A viagem vai começar. Uma viagem que vai ao encontro da poesia e da alegria, dos amigos e das maravilhas da região. Entre um passeio apetecido, gastronomias e tertúlias, a vida que tanto gosto acontece…
O Alentejo espera-me e eu quero-o.
Até já!

quarta-feira, março 26, 2008

Carta a P.G.


(Foto de Julie Groulx)

Bom dia!

Hoje dedico-te as minhas primeiras palavras! São singelas e fui angaria-las ao meu sentido emocional, para que as possa dar com a emoção que mereces.
São bordadas a ouro, um ouro lúcido e transparente. Estão também recheadas com a magia de uma amizade por solidificar. Quase de uma forma prematura, elas saem com fluência e trazem no rosto um ar casto e sensato. São como a tua imagem!
Deixo-te assim a minha prenda, esse sorriso que constróis, ainda que tímido mas sincero. Pois é! Esse teu sorriso é a minha humilde prenda. Fazer-te sorrir é uma prenda partilhada e que se oferece mutuamente.
Acrescento-lhe o desejo de poder dar-to todos dias, e que, com o passar dos anos possa, de uma forma presente, oferecer-to sempre.
Por ora, a palavra mágica e justificada, Parabéns!

Um beijo sol que denomina a estrela que há em ti!

FELIZ ANIVERSÁRIO

Paulo Afonso
26 - 03 - 2008

segunda-feira, março 24, 2008

Dia 29 Março 08 - Alvito E Viana Do Alentejo

A edium editores desloca-se este fim de semana ao Alentejo para apresentação de 2 livros de poesia em 2 sessões.
Os livros, da autoria dos n/comuns amigos, são: "O Livro do Regresso" de Xavier Zarco, Prémio de Poesia Raúl de Carvalho 2005 e "Da Humana Condição" do poeta alentejano José-Augusto de Carvalho.
As sessões, ambas no sábado, dia 29, serão em Alvito, 16.30 horas na Biblioteca Municipal Luís de Camões, autarquia que instituiu o Prémio Raúl de Carvalho e, pelas 21.00 do mesmo dia, em Viana do Alentejo (Salão da Junta de Freguesia) local onde nasceu e reside o poeta José-Augusto de Carvalho.
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Sobre “O Livro do Regresso” do poeta conimbricense, Xavier Zarco

Depois do lançamento em 2007 do premiado “Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá – Invenção de Eros” a edium editores lança agora “O Livro do Regresso” de Xavier Zarco, obra também galardoada, desta feita com o Prémio de Poesia Raul de Carvalho, instituído pela Câmara Municipal de Alvito.
Aliás a colaboração deste poeta conimbricense com a edium editores tem sido intensa e frutuosa: participação na 1.ª Antologia Poética “Amante das Leituras” 2007, a referida edição de “Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá – Invenção de Eros”, prefácios de obras dos poetas Andityas Soares de Moura, Ana Maria Costa e Paulo Themudo. No prelo, a edição de “Nove ciclos para um poema”, Prémio Lusofonia 2007, da Câmara Municipal de Bragança.
O fulgurante trajecto literário de Xavier Zarco conta com uma vasta lista de obras publicadas: O livro dos murmúrios (1998), No rumor das águas (2001), Acordes de azul (2002), Palavras no vento (2003), In memoriam de John Lee Hooker (2003), Ordálio (2004), Hino de Santa Clara (2005), O guardador das águas (2005), O ciclo do viandante (2005), O fogo A cinza (2005), Stanley Williams (2006), À beira do silêncio (2006), Monte maior sobre o Mondego (2006), Afluentes do poema (2006), Trinta mais uma odes (2007), Divertimento poético (2007), Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros (2007) e Poemas com rosto (2007).
A Xavier Zarco foram ainda atribuídas as seguintes distinções: Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2004, organizado pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ao título O guardador das águas; Menção honrosa (poesia) no Prémio Literário Afonso Duarte – 2004, realizado pela Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, a Monte maior sobre o Mondego; Vencedor do Concurso para a letra do Hino da Freguesia de Santa Clara, efectuado pela Junta de Freguesia de Santa Clara, em 2004, com Hino de Santa Clara; Prémio de Poesia do Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage - 2005, promovido pela LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, a O fogo A cinza; Prémio de Poesia Raúl de Carvalho - 2005, levado a efeito pela Câmara Municipal do Alvito, a O livro do regresso (agora editado); Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2007, do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros; Prémio Literário da Lusofonia - 2007, da Câmara Municipal de Bragança, a Nove ciclos para um poema (no prelo da edium editores para edição em Junho 2008); Menção Honrosa (Poesia) no 1.º Concurso de Conto e Poesia da CGTP-IN – 2007, a 25 Cravos de Abril (título ainda inédito).

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Sobre o “Da Humana Condição” do poeta alentejano José-Augusto de Carvalho.

José Augusto de Carvalho nasceu em Viana do Alentejo a 20 de Julho de 1937, onde reside.
O autor, com seis obras já publicadas apresenta-nos este título revertido e inspirado da obra de André Malraux “A Condição Humana”; José Augusto de Carvalho recupera os paradigmas da evolução humana, e discorre sobre a moralidade, a política o conflito num registo quase sempre na 1.ª pessoa, um incarnado resistente, desagrilhoadas as correntes que se soltam em palavras que se ordenam em destinos.
Xavier Zarco na nota breve de abertura sublinha a propósito:
“José-Augusto de Carvalho apresenta-nos, em todo o seu esplendor, a humana condição, que quantas vezes fazemos de conta não ver, mas que existe e invade, enquanto jantamos e lançamos comentários que, amanhã, poucos deles restarão na nossa memória, porque a vida é feita no desespero de cumprir a hora, exagerando, ou talvez não, de cumprir o segundo.
Este tomo não deve, não pode passar indiferente. É Poesia no seu esplendor porque habita ao nosso lado e não devemos, não podemos manter o olhar cerrado. Isto, claro, se desejarmos, de facto, um mundo melhor. Se não for para nós, que seja para aqueles que nós gerámos”.

Obras de José-Augusto de Carvalho já publicadas:

“arestas vivas”, 1980
“sortilégio”, 1986
“tempos do verbo”, 1990
“vivo e desnudo”, 1996
“Nós Poesioa…”, com Lizete Abrahão, 2002
“A instante nudez”, 2005

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Se puder, não falte.

domingo, março 23, 2008

Escritor


(Foto de Mikel Arrizabalaga)

Alguém me perguntou se era Escritor. Surpreso, perguntei-me o que era isso de ser Escritor. Nunca antes tinha pensado nesse título nem tão pouco me sentia vestido na sua pele. Escrevo, de facto. Mas escrever é ser Escritor? Apenas escrevo o que os meus sentimentos ditam e gosto de partilhar essa emoção. E nas palavras faço as digressões ao meu imaginário e misturo as imagens que colhi pela vida fora. Algumas… guardo-as com amor, pela simplicidade, pela forma como surgiram. Outras aparecem-me do nada e permanecem até que as escreva, para depois fugirem de mim.
Quanta necessidade, ou quanto vício, que aperta o meu sóbrio desejo e me impulsiona ao acto.
São momentos de uma insanidade perfeita, em que consigo atingir a felicidade total, desenhada pelas palavras que chamo. Nesse estado sou o Rei dessa monarquia das letras. Ninguém mais existe nesse habitat natural das plenitudes…
Oh! Quanta loucura é explanada na frase exposta! Quanta magia é ali deixada à espera que alguém leia e colha essa essência, entre cheiros de maresias, entre sabores doces ou em imagens recônditas…
Faço um mundo de pormenores sentidos, e sinto cada momento como meu. E ainda assim, não sei ser Escritor porque, em cada frase triste, há uma lágrima derramada e em cada alegria um sorriso perdido no pensamento.
E o meu lamento acompanha o meu sonho, de, talvez um dia, poder ser Escritor.
Enquanto esse dia não chegar, e talvez nunca chegue, vou vivendo esta paixão de escrever o meu alento, enquanto aos poucos vou morrendo.
Tirem-me tudo de mim. Mas deixem-me a liberdade de escrever até ao fim!
Talvez, depois de partir, consiga ser um Escritor… por ora, alguém me perguntou se era Escritor e ainda não sei o que responder!



PS: Dedicado ao Poeta e Amigo Xavier Zarco
http://euxz.blogspot.com/

sábado, março 22, 2008

A Escola da Margarida


(Foto de Ian Cameron)

Na escola da Margarida há espaços lindos para os meninos e as meninas brincarem, e as salas de aulas são grandes.
Os professores são os amigos crescidos que se preocupam e que ensinam coisas importantes para a vida futura.
Todos os dias as amizades florescem na Escola da Margarida.
Todos os dias as crianças estão felizes e assim aprendem a conhecer o mundo.
A Escola da Margarida é tão bonita porque tem crianças lindas e espertas que ajudam a simplicidade das coisas boas da vida.
E os outros meninos, das outras escolas, querem conhecer a Margarida, a menina que tem uma escola tão boa e especial.

Talvez um dia a Margarida vos mostre a sua escolinha ou vos escreva a contar o que lá acontece…


PS: Este texto foi dedicado e oferecido a Margarida que tem 6 anos

sexta-feira, março 21, 2008

Boa Páscoa!

Que todos estejam em harmonia. Que cada um seja um símbolo de Amor na ternura dos seus actos e na elevação dos seus próprios pensamentos.

Que todos desejem um mundo melhor, sem que o egoísmo aceda e mesmo que a tentação abunde, que não consiga erguer-se em prol dos infundados.

Um gesto de amizade e bom senso para todos os que visitam esta casa que é vossa. Sois Vós a origem da minha alegria. Para todos o meu desejo de uma Santa Páscoa.

Obrigado por serem presentes

segunda-feira, março 17, 2008

Um segundo para pensar…


(Foto de Kadir Barcin)


Saí de casa para poder usufruir da natureza. Dirigi-me, solitariamente, para a praia deserta, naquele dia de Outono. Precisava de um segundo para pensar. Um segundo em plena harmonia, sem ser incomodado, só eu e o mar… o meu melhor conselheiro!
Sentia que a minha vida estava prestes a mudar. Cabia-me escolher se para melhor ou para pior, embora só o tempo pudesse confirmar o positivo ou negativo…
Em cada onda, colocava de uma forma imaginária, um desejo, e quando a onda rebentava na praia imaginava esse desfecho e isso ajudava-me a decidir. E o tempo alongou-se. Já sabia que assim seria, afinal um segundo tinha sido para tomar a decisão de ali estar.
De segundo em segundo, de minuto em minuto, compreendi que a vida era feita de decisões, algumas encobertas pelo nosso inconsciente, mas sempre eram meras decisões. Outras apertavam o nosso pensamento e faziam notar a sua presença ambígua e por vezes mordaz.
Mas ali estava seguro. O mar deixava-me confiante e pronto para decidir a minha vida.
E, nesse momento, tomei a decisão mais importante da minha vida…
Decidi ser feliz e para isso acontecer passaria a dar sem pedir, e sem esperar algo em troca. E a primeira coisa que dei… foi o meu sorriso!

De sorriso em sorriso a vida foi acontecendo. Dava sem nada esperar e logo recebia outros sorrisos em resposta, e gostei dessa boa nova. E o resto foi fácil…depois transportei o exemplo do sorriso para tudo o que compunha a minha forma de ser e de estar… e sabes qual foi o resultado?

É fácil de imaginar se olhares bem para mim! Um sorriso espera sempre por ti!

sábado, março 15, 2008

Festa de Aniversário

Fevereiro estava a terminar. E na última semana constava o dia de anos de Pjar um amigo virtual das noites mágicas da escrita nesse espaço de ninguém ou de todos, designado por Internet.

Estella, mulher de impulsos e desejos fortes, depressa gerou entre a comunidade uma estratégia definida para atacar esse dia já próximo, seria ao bater da meia-noite, uma festa surpresa para Pjar.

S
eus cúmplices, participantes na festa, estava de acordo com a estratégia e dispostos a ser uma parte activa nesse evento.

T
odos os pormenores foram avaliados, ou quase todos, medidos mais pela emoção do acto do que pela importância da festa.
Surpresa seria sempre a palavra-chave. Obviamente que todos sabiam da importância desse momento para Pjar, pois todos, sem excepção, já tinham plena experiência de viver esse dia especial, pois que aniversariante era e seria uma condição anual de cada um.

Assim, o empenho e a presença, seriam uma realidade entre todos!




D
epressa o momento chegou! Nessa noite, nas suas casas, todos estavam na Internet presos ao módulo de comunicação.

Entusiasmados pela festa surpresa, vestidos na pele do mais astuto caçador, esperavam o momento para “caçar” a presa fácil e indefesa…



A meia-noite apareceu! Todos saíram das suas tocas e mostram-se num campo aberto dispostos a disparar palavras em forma de parabéns.

N
o entanto, os olhares cruzaram-se entre todos e o espanto, naturalmente, sobressaiu …
Imaginaram tudo menos aquele cenário. Afinal faltava a “vítima” que iria ser caçada…

Verificaram os processos e reviram a estratégia. A esperança num atraso instalou-se forçadamente.

E
não desistiram, antes acreditaram que a presa em poucos minutos iria passear nesse bosque imaginário e seria surpreendida.

R
epararam nos minutos que fugiam sem parar, e, por esta vez, sentiram que o tempo corria mais depressa. Nítida sensação descontrole do momento…Sabiam o risco que corriam, mas ainda não acreditavam que algo pudesse ter corrido fora do planeado.

S
em que o tempo se alongasse mais, a festa iniciou-se sem o aniversariante.

Afinal todos estavam à espera, todos estavam e nada tinha acontecido, como o dia apenas tinha começado foram deixando mensagens de parabéns expostas na casa virtual da cultura, passagem diária quase obrigatória de todos, inclusive por Pjar.

R
ecorriam assim à parte dois da estratégia antecipadamente delineada.

Impressionados pela inesperada ausência, depressa se recompuseram e avançaram como se nada de anormal ou fora do contexto estudado, se tivesse passado…

O dito dia decorreu em plena festa virtual, juntando imensos amigos e sem que o aniversariante conseguisse escapar. Todos em dedicação ao Pjar e nos mais próximos ficou o segredo guardado a sete chaves daquela meia-noite mistério em que nada falhou…

segunda-feira, março 10, 2008

Entrevista de Paulo Afonso no Luso - Poemas


O destaque de Luso-Poemas para o mês de Março é o Paulo Afonso. Não por ser administrador do Luso (de facto, por sê-lo esteve para não ser o escolhido), não por ser amigo de ninguém em particular mas por ser amigo de todos de forma desinteressada e fácil.

Sem querermos cair no elogio fácil, devemos dizer que o Paulo Afonso é, indiscutivelmente, uma figura incontornável deste sítio, tanto pela sua escrita como pela sua postura correcta e conciliadora. Se tivéssemos que sublinhar as suas maiores qualidades, essas seriam, garantidamente, o voluntarismo, a correcção e a grande capacidade para ouvir/ler. Estas qualidades humanas aparecem fortemente imprimidas na sua escrita.
Quem lê o Paulo Afonso, atesta facilmente esta verdade.

Nesta entrevista introduz-se uma nova nuance. A partir de agora, para além dos elementos usuais em cada entrevista, passará a haver um entrevistador Luso ou Lusa convidado. O primeiro nessa qualidade é uma primeira. A Rosa Maria.

Ficamos, então, com uma pequena biografia do Paulo e com a conversa que tivemos com ele.

Auto-biografia

Paulo Jorge Afonso Ramos nasceu na Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa, ao vigésimo quinto dia de Fevereiro decorria ano de 1966. Viveu em Alcântara até aos 3 anos, altura em que foi viver para África. A sua infância foi passada em Moçambique. Voltou para Portugal e viveu nos Olivais Sul onde começou a sua viagem pela escrita aos 10 anos de idade.
Só no ano de 2001 (Maio) começou a publicar poesia através da Editora Minerva, onde participou na Antologia de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea – “Poiesis” Volume V.
Participou ainda neste projecto “Poiesis” nos Volumes VII – (Maio 2002) e no Volume VIII – (Dezembro 2002).
Mas foi no ano de 2006 que concretizou o seu grande sonho, ao ver o nascimento do seu primeiro livro de poesia, editado pela Edições Ecopy com o nome de “Vinte e Cinco Minutos de Fantasia”. Este livro reflecte o seu olhar pelo amor, pelos sentimentos e pelas pessoas em forma de poesia.

Escreve com assiduidade no seu blog http://poesiadepauloafonso.blogspot.com/


Entrevista

Rosa Maria - Olá Paulo. Não queria começar a falar do poeta. Queria saber do Paulo enquanto Homem romântico, sensível e sonhador que parece transparecer na tua poesia.
Paulo Afonso - Bem, não sendo Poeta, acho-me um pouco romântico e muito sensível. Sonhador sou demais, talvez por ser do signo peixes. Mas gosto do que sou. Pois sinto-me de bem com a vida.

Vanda - Ainda te lembras da 1ª vez que escreveste? Como foi?
Paulo - Tinha pouco mais de 10 anos. Tímido e inseguro e com necessidade de desabafar encontrei no papel a forma ideal de o fazer, depois escondia o que escrevia como se de um tesouro se tratasse. Mas por pura timidez …

Vera Silva - Nasceste para a poesia muito criança ainda e, descobriste, pelo que vemos nas tuas publicações no Luso-Poemas, a prosa muito mais tarde. Como aconteceu essa descoberta e em qual delas te sentes mais à vontade?
Paulo - De facto sempre escrevi poesia. Tinha um medo enorme de escrever de outra forma. Só no ano passado e no Luso–poemas comecei a arriscar a prosa em pequenos textos. Os incentivos foram chegando e comecei a escrever mais vezes. Hoje, por incrível que pareça, sinto-me mais à vontade na prosa e, esse facto, devo-o ao Luso e aos Lusos que amavelmente comentam os meus textos…

TrabisDeMentia - Olá Paulo, o Luso tem um efeito relaxante mesmo. Mas também é verdade que ele te tem dado algumas dores de cabeça. Como te sentes no papel de administrador. É tão relaxante como ler poesia?
Paulo - Ufa! Uma verdadeira surpresa. Imenso trabalho de bastidores e muita preocupação misturadas com muita vontade de fazer coisas boas em prol de todos. Agora também tenho imensas saudades dos tempos em que apenas lia e debitava textos sem qualquer noção da vida de administrador e sem preocupações. Hoje dou muito valor a esses tempos pois já conheço os dois lados…

Trabis - Por falar em lados, foste o primeiro Luso-poeta que eu tive o prazer de apertar a mão! Também noto que apareces em todas as fotos de encontros literários. A vida é um prazer, não é?
Paulo - Todos os momentos são feitos de grande prazer. E alguns com grande orgulho. Conhecer as pessoas pessoalmente, reforça a união. No teu caso foi um grande prazer também. Poder estar com a pessoa que vive atrás do ecrã é magnífico.

Valdevinoxis - Tu és por natureza uma pessoa conciliadora, uma pessoa que tende a querer mediar situações. Já por várias vezes o vimos aqui no Luso. O que te parece que gera os desentendimentos ou melhor, o que achas que impulsiona algumas pessoas a terem relações difíceis com a harmonia? Como é que se gere isto?
Paulo - Uma pergunta difícil. Mas vou tentar ser objectivo. O problema é, de facto, sermos muitos e todos diferentes. Uns mais que outros, precisam de apoio, incentivo ou uma palavra de amizade. São as relações sociais do ser humano. Gerir é complicado e não sei se conseguirei, mas já aprendi muito com os Lusos e creio que a maior virtude é tentarmos entrar na pele do outro para perceber as razões, convicções etc. Nunca é fácil…

Rosa - Diz-me Paulo, o que significa verdadeiramente o Luso-Poemas para ti? Quais são no teu ponto de vista as suas virtudes e defeitos, de uma forma concreta.
Paulo - O Luso–poemas é uma segunda casa para mim e sinto os Lusos como uma família. As virtudes são muitas, pela variedade de estilos ou por ser um site diferente de todos outros desta área. Defeitos? Alguns. O facto de não termos alguma capacidade de gerir as diversas formas de opinião (critica geral) e de não conseguirmos expandir mais para outras culturas, nomeadamente a africana onde existem grandes poetas. Mas iremos conseguir com o tempo e a ajuda de todos Lusos.

Vera - A poesia é muito mal tratada e pouco divulgada. Se tivesses o poder de alterar isso, como o farias?
Paulo - Atacaria as bases. Mudaria a política da educação. Mudaria o apoio à cultura e criava outras opções de publicação, que permitissem termos mais acessos à leitura com, obviamente, baixos custos. Se pudesse, a poesia seria posta em outras condições, mais de acordo com os poetas da nossa história…

Trabis - E que dizes tu, Paulo, da história que os nossos poetas escrevem a cada dia? Achas comparável à dos nossos antepassados?
Paulo - De certa forma sim. Se pudermos modificar os métodos e actualizarmos os efeitos. Claro que sim. Mas o tempo o dirá quando um de nós merecer o justo destaque social e na literatura, pois no Luso-poemas há de facto grandes valores. Aposto fortemente em alguns nomes…

Vera - Que relação existe entre Paulo Afonso e as personagens que estão dentro dele?
Paulo - De cumplicidade. Tenho uma frase minha em que digo: “Escrevo…para libertar as personagens que não consigo Ser”. Em cada frase, em cada texto sai um pouco de cada personagem que habita dentro de mim. Por vezes confundo-me entre as personagens e o homem real do dia a dia que também existe e com muitos defeitos…

Val - Paulo, o que dizes é que tu és mais uma personagem, que te recrias na escrita? Se assim é, não tens medo de uma exposição demasiada, de neste processo de "mixagem", perderes a identidade? O facto de seres o autor não te deveria obrigar a um distanciamento em vez da colagem de que falas?
Paulo - Há uma liberdade criativa, por vezes inconsciente mas em que tenho necessidade que assim seja. Sem qualquer medo, assumo que por vezes não me reconheço no que faço através da escrita, mesmo que corra o risco de perder a identidade, faço-o na mesma. Quando escrevo, perco o medo, a vergonha e a conduta social. Criar é poder voar sem asas é ir e voltar sem preocupações com o ego ou com outra envolvente subsequente. Nessa altura o Eu pouco me importa. Simplesmente escrevo!

Rosa - Agora questiono o Poeta. Tens um texto (em prosa poética) com o título "Viagem". Que "Viagens" ainda queres realizar?
Paulo - Quero descobrir a viagem ao paraíso e por lá ficar os últimos tempos da minha vida. Estamos uma vida inteira a aprender. Como digo nesse texto: “A verdadeira viagem foi a vida… pelos anjos que encontrei” Esse tesouro é a minha maior riqueza, a fonte do meu sorriso diário e a esperança em conseguir viajar sempre. Viajar? Sempre, quer seja pessoalmente (adoro) ou através da escrita. O que importa é mesmo viajar...

Vera - O que mais te inspira quando escreves? Como chegas a um tema, como vives o processo criativo?
Paulo - Confesso que tenho uma forma pouco comum. Primeiro porque tenho o hábito, muito antigo, de pedir um título e só depois escrevo. É assim que chego ao tema. Vivo o processo criativo com grande emoção e prazer. Inspiro-me no momento ou na música e as coisas acontecem naturalmente. Fluem de dentro de mim em liberdade que por vezes nem tenho a consciência do resultado final.

Trabis - Tenho um título bom para ti: "Paulo". Conseguirás escrever esse poema? Agora? Em breves linhas? Deixa o tema fluir!
Paulo -

Um mistério recôndito
que o tempo vê passar
ele é o dito
que quer falar.

Espevito
sabe amar
quer viver em sociedade
em alegria constante
em liberdade
em cada instante.

Ele é um menino
que cresce em cada hino!

Val - No decorrer desta entrevista mantiveste uma postura que, podemos dizer, é politicamente correcta. Também nos apercebemos que não é uma máscara mas sim uma filosofia de vida. Quero que descoles um pouco dessa linha e que nos digas o que mais te desagrada no Luso. Qual o tipo de intervenção que não gostas mesmo? Quais são os pontos sobre os quais tomavas medidas drásticas? Que medidas?
Paulo - Não é fácil desviarmo-nos da nossa linha mas, nunca recuso um bom desafio. O que mais desagrada no Luso é a postura de alguns Lusos, que a criticam sem noção das realidades e só para aparecerem. As manobras de imposição, maioritariamente dissimuladas. Não pactuo com posturas provocatórias ou de “politica do umbigo”, ou seja, manifestamente egoístas.
Não gosto mesmo do tipo de intervenções “BOMBA” no fórum. Sem critério ou sem bases, só porque estão na corrente e deixam-se levar. E digo-o com o devido respeito por todos, obviamente. Nessas alturas tomaria medidas drásticas. Que medidas? Colocava-os como a outra parte, a parte de quem tem que resolver e em simultâneo agradar a todos para ver se conseguiam entender o quão é difícil gerir e fácil criticar. Só assim alguém poderia ter consciência poética para agir
Depois trocava opiniões com os visados e certamente melhorávamos todos. O Luso–poemas incluído.

Rosa - Para terminar não poderia deixar de te pedir uma mensagem para todos os Luso-Poetas. Que palavras nos ofereces Paulo?
Paulo - Uma mensagem de gratidão sincera. Porque todos Lusos (mesmo que não saibam) têm uma grande influência na minha vida e em especial no que escrevo. Porque desde que estou no Luso cresci como homem e na escrita. Criei um canal de amizades verdadeiras. Sinto que todos podemos crescer em conjunto, sem limites e com respeito pela personalidade de cada um. Que todos sejamos capazes de fazer um esforço em prol da poesia. Do Luso–Poemas. E que em Abril façam mais um esforço para estarem no 1º Encontro da Luso. Mostrem-se. Sorriam e a vida melhorará. Por favor, ACREDITEM!

domingo, março 09, 2008

Desejo Secreto


(Foto de reencarnacion cristalero)


De coração desfeito das intempéries do amor, o vulto erguia-se de mais uma aventura perdida. Acabara de receber mais um duro golpe, vicissitudes, de quem perdera o norte e se guiava pelo vendaval dos actos espontâneos…
Três letras assombravam o seu pensamento – fim – era o seu constante tormento, porque o tempo mostrava os insucessos repetidos. Outrora esteve perto da felicidade mas o medo de assumir esse real sentimento assustara a condição, e a oportunidade viajara para outras paragens da vida de alguém.
O vulto era a noite! Ansiava voltar a sentir-se o sol de alguém como um desejo secreto.
O seu desejo secreto, concretizado, daria um sorriso constante e aberto. Daria um brilho aos seus olhos pungentes e extrairia do seu pensamento a afronta das palavras residentes.
Todas as noites…regressava ao sonho para vive-lo intensamente. A realidade não conseguia dar-lhe esperança, vontade ou uma pequena alegria que fosse!
Morria lentamente…perdendo as forças ocultas para realizar o desejo de ser simplesmente feliz.
Todas manhãs, ao acordar, imaginava que um vulto especial entraria na sua vida e que, de sorriso em sorriso, viajariam no mundo do amor e acabariam os seus dias, juntos, à beira de um lago, numa casa feita de momentos felizes e de grande cumplicidade.
Em silêncio esperou e os seus dias passaram lentamente por si!
Os seus olhos gritavam:
-“ Eu morro pela tua presença!”
As suas lágrimas denunciavam:
Fiquei… inverso… de… mim!
Os seus passos corriam para o abismo!
Fiquei…
Incompatível… (de)
Mim…




(Nunca tenhas medo de amar. De assumir o desejo, o teu íntimo desejo, porque a vida não pára e amanhã pode ser tarde…)

quinta-feira, março 06, 2008

Beijo Ausente


(Foto de: Tanni Thai)

Levito na ânsia do teu beijo!
Percorri as ausências dos espaços
ultrapassei as barreiras da inépcia
e formulei o meu desejo
bordado na acácia
dos meus pensamentos escassos.
Imaginei o momento
que tanto almejo
construído de muito sofrimento
e algum lampejo.
Sonho que se repete constantemente
que domina a minha mente
e acalentado me vejo.
Oh! Híbrido estar…
Oh! Imagem que se confunde
e me dá asas e me faz voar.
Levito na ânsia do teu beijo!
Espreito o caminho
que percorro sozinho.

sábado, março 01, 2008

Intuição


(Foto de: Saul Santos Diaz)


Como um sopro de vento senti na minha cara esse momento por acontecer, ou já acontecido, e no calor desse gesto de ninguém as palavras acordaram na minha mente…
E as frases descreveram-me a tua imagem e a minha imaginação moldou o teu corpo… Corpo fugaz de uma pessoa sem destino e que percorria um caminho de pedras e poeiras de outros passados em busca da sua identidade.
Criei no momento imaginado o meu desejo e vesti esse corpo de princesa, troquei o caminho por outro feito de terra batida por entre uma floresta densa e em que se via um lindo castelo lá bem ao fundo… Vês também?
Ouvi o chilrear dos pássaros felizes e deixei-me ficar a ver-te em direcção ao castelo.
Consegues… consegues ouvir os pássaros?
E, de repente, senti este cenário fugir-me da mente e o espaço cercado de uma nobre presença. Como se alguém estivesse dentro de mim a ler-me ou como se alguém estivesse a ler as frases que derramei no caminho da minha imaginação…
Algo me diz… se tu lês e sentes estas palavras… se vês o castelo e ouves os pássaros… Então menina mulher és tu a princesa! Será só na minha imaginação? Será só mera intuição?
Se o segredo morrer… só tu poderás dizer a verdade!
Mas, aconteça o que acontecer, as histórias nascerão sempre em busca desse momento.