sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Arguto

São garças esvoaçantes
que embebedam o meu dia-a-dia
na plenitude do sentir.
São mordomias incessantes
que revestem o meu hábito
de um não sei porquê
sem que peça
sem que passe
sem que desça
sem que me levante.
São corujas inebrias
que escoltam a minha noite
na plenitude do sorrir.
São acasos irrelevantes
que moldam o sonho
de um acanhado ninguém
sem que perceba
sem que queira
sem que seja
sem que aconteça.
Entre o sonho e a realidade
mora um poema
que veste um corpo
e amarra o sentimento
desse Ser que desperta
em cada palavra.
Sem que vejas
sem que leias
existimos na distância
que separa
a noite do dia.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Convite



O Autor, António MR Martins e a Temas Originas, têm o prazer de o convidar a estar na sessão de lançamento do livro "Ser Poeta", a ter lugar no auditório sito a Campo Grande n.º 56, Lisboa, no próximo dia 14 de Março pelas 19.00 horas.
Obra e Autor serão apresentados pelo poeta Xavier Zarco.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Convite



O Autor, Octávio Da Cunha e a Temas Originas, têm o prazer de o convidar a estar na sessão de lançamento do livro "A Intermitência dos Sentidos", a ter lugar no auditório sito a Campo Grande n.º 56, Lisboa, no próximo dia 14 de Março pelas 16.00 horas.
Obra e Autor serão apresentados pela poetisa Vera Sousa Silva.

Se puder não falte.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Fim

Já nada mexe
neste meu estar aqui
nada. Nem o desejo desse olhar
nem o amor desse poema
que busca o meu sentimento
escondido. Já nada mexe…
Perdi a inocência das palavras
que em segredo moldavam
o carinho do poeta, e emprestavam
delicias de emoções a quem as lia…
Já nada de nada me mexe
nada me agarra a este tempo
a este esconderijo de prosas encantadas
nem as fadas, que alegravam as noites
por dormir…nem as musas,
que coloriam as frases do meu pensamento.
Já nada mexe em mim
agora que os meus olhos
se fecharam para o teus passos
que nem lágrimas provocam,
já nada consegue iludir
a esperança que morreu nos meus braços
abandonada
apunhalada
pela penumbra da escrita volátil…
Já não moro aqui
nem em parte incerta
e com a mesma palavra com que nasci
parti,
na morte quase deserta…
Já nada mexe
nem os teus lábios
que murmuravam desejos
nem o meu anseio
que pedia os teus beijos.
Já te disse,
nada mexe aqui
porque a morte irrequieta
ficou longe
em silêncio
quieta.
E eu… já não moro aqui!

domingo, fevereiro 22, 2009

Eugénio de Andrade

Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.

E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.



Eugénio de Andrade

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Fernando Pessoa

A felicidade exige valentia.



"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não
esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela
vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no
recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter
medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para
ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."


Fernando Pessoa

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Sexta-Feira - 13

Sexta-feira 13

Procuro o azar e não o encontro. Procuro as palavras para falar de amor, e a voz cala-se.

Quero gritar, mas o grito assustado da minha revolta foge. Tudo me ocorre no olhar soslaio, matreiro, com que agarro cada momento. Procuro-te mesmo sabendo que não existes...

Agarro o tempo para que o sinta fugir de mim. Agarro a vontade dos impossíveis para que possa justificar um fim.

Ninguém sabe, ninguém sonha, que a culpa parte de mim quando procuro desculpas, ou justificações, para os meus fracassos escondidos, perdidos, esquecidos que, guardados, formam a construção do ego destorcido...

Ninguém acredita quando aponto o dedo ao outro, ao tempo, ao passado e ao presente, quando digo que a culpa é da incongruência do pensamento, seja do meu ou do teu...

E há dias em que a vontade é sublimada, em que quero modificar tudo, e logo o tempo estremece, foge, do meu olhar sonhador.

Que posso fazer?

Se não aceito respostas ou se nem quero saber das hipóteses de vencer...

Nada importa.

A culpa é da sexta-feira 13 que, mesmo não sendo supersticioso, me serve a alma, o corpo, para nada fazer e tudo justificar...

E, por favor, nunca se esqueçam que tudo tentei, mas a sorte não quis ajudar.

Vou andar mais um ano a pensar, outro a planear e todo o tempo do mundo a estruturar um projecto ambicioso, serei como ninguém e, numa sexta-feira 13 qualquer tentarei, outra vez, sabendo que, se falhar, a culpa não será minha de certeza absoluta.

domingo, fevereiro 15, 2009

Temas Originais - Editora





Caros Autores,

A 5 de Fevereiro último nasceu a TEMAS ORIGINAIS, LDA. Pretendemos ser, não mais uma Editora no mercado, mas uma verdadeira Casa de Autores. É nosso intuito editar os mais díspares géneros literários; dar corpo à voz ímpar de cada um que, por nós, decida publicar. Contacte-nos, envie-nos uma obra que considere definitiva e que queira ver editada e saiba como.

Com os nossos melhores cumprimentos,

Os editores

TEMAS ORIGINAIS, LDA
Rua de Vilar, 74 – 2.º - 4050-625 PORTO
DELEGAÇÕES EM: Coimbra, Lisboa e Porto
E-mail: temas.originais@gmail.com
Blogue: http://temasoriginais.blogspot.com
(o sítio está a ser ultimado)

sábado, fevereiro 14, 2009

Ilusão Moribunda

Vivo no teu silêncio
nesse alvéolo
da imaginação.
Sou a resposta
sem pergunta.
Sou palhaço
sem circo.
Vivo no regaço
do amor perdido
sem ser achado
apetecido.
Vivo na sombra
do sonho
paredes meias com a loucura.
Sou inebriado
com o que não tenho
e de peito aberto
vivo no estreito
da sensatez
de um dia,
quase perfeito.
Sou a mentira
com que te iludes.
Sou a verdade
com que foges
quando a ignoras…
Sou um pássaro azulão
ou peixe verde
uma consoante
ou uma letra abandonada.
Sou o que os teus olhos
quiserem ver…
Vivo no silêncio
do teu umbral
na espera
que um dia acordes.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Poema Novo

Nasce do nada…
O poema que se lê
inspirado numa fada
que ninguém vê…
Poema do asfalto
pisado pelo olhar
é nobre e alto
que caminha para o altar.
Em busca do sonho
em busca da musa
o poema novo nasce
e renasce do nada.
Fonte por encontrar
desejo por esgotar
este corpo novo
é o poema do nada
que vive na sombra
e sobrevive ao momento
do olhar…
Poema etéreo
vestido pelos desígnios
que de nada e de novo
sustenta qualquer morte
anunciada.
Morre até o poeta
mas o poema,
esse é sempre novo,
a cada olhar…
Oh! Poema novo
libertino
e com esplendor
escondes a dor
do poeta citadino.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Já não tenho flores

Há um dia azul
enfeitado por um sol presente
(há um silêncio
que faz a barreira,
que nos separa da noite…)
Há uma noite
enfeitada por uma lua sorridente
(que tem uma barreira
escondida na escuridão
de um silêncio separador…)
Já não tenho flores
para conquistar amores
para iludir os prantos
desse dia perdido.
Já não tenho flores
para depositar nessa campa
onde a noite guarda os segredos.
(As últimas flores
deitei-as aos peixes verdes
que no mar carpiam as dores
dos meus dias perdidos…)
Já não tenho flores
nem tristezas.
Já não tenho dias
noites,
amores,
já não tenho certezas
quanto mais flores.

sábado, fevereiro 07, 2009

Hoje matei um poema!

Hoje matei,
matei um poema
de cálidas palavras
e de branco sofrer…
Matei-o antes de nascer
com versos de raiva
feitos de frases de pólvora
matei-o…
Hoje,
porque sempre pensara
nesse acto
matei,
com brasas de revolta
estendidas pelas palavras.
Hoje matei um poema
e entreguei-me.
Entreguei-me aos leitores
de braços rendidos
presos…
Cumprirei a penitência
em silêncio
e quando a liberdade voltar
voltarei também entre rimas
e matarei, novamente,
o então hoje
que trouxer um poema
solto ao vento
que um dia foi meu
também teu
e que o matei…

O verdadeiro poema
não morre!
Vê-nos morrer…

Hoje matei…
um pouco de mim
e pensei que era um poema.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Amar-te em Silêncio



Breve é o sonho
Em que me fundo à tua alma
E assim ficamos unos,
No espaço infinito da razão
Que nos cobre de estrelas cadentes
E risos inocentes, cálidos,
Como a voz do poema.

Breves instantes de ilusão
Em que o acordar é claro e límpido
Sem teu corpo perto,
Sem teu cheiro
(que mesmo assim
se m’entranha na pele
e m’esgota a consciência).

Amar-te é causa e efeito,
Propósito sem intenção,
Meu rumo e destino…

O silêncio mata-me
E grita no peito que arde,
Nas veias que pulsam
Levando a vida ao coração.

Não peças palavras…
Lê-me o olhar!



No próximo dia 7 de Fevereiro, no Auditório da Câmara Municipal da Amadora, pelas 15.30 horas, será o lançamento do livro de poesia "Amar-te em Silêncio" da autoria de Vera Sousa Silva, com a chancela da Edium Editores.
Obra e autora serão apresentados por Magda Pais.
Serão declamados poemas por Dionísio Dinis, gentilmente cedido pelo EscritArtes e serão interpretados alguns temas pelos músicos Bruno Rocha e Catarina Cardoso.
Apareçam

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Sonhos Impossíveis

Na taciturna da noite ouvem-se vozes distorcidas que planeiam afugentar os personagens de um sonho matreiro. O portador do corpo estendido num palheiro dorme sem sobressaltos e, inconsciente, colabora no desenlaço daquele momento quando abriga as sensações com que vive.
Há uma Musa antiga que entra no sonho e se deleita com as vozes da noite, a sua formosura enternece as personagens que existiam em silêncio.
Rompem os laços da magia empacotada nas traseiras do dia e depressa floresce um amor premeditado por Zeus.
Todas as coisas acontecem entre um estar absorvido e o amor repete-se em horas de loucura que a fantasia teima em conseguir. Há uma perpétua condição que amanhece no peito e que, com ela, trás a luz de mais um dia. Firma-se essa condição num desejo absorvido pelo prazer onde fica escrito na mente dos amantes que, em cada noite, ao som das vozes de comando, voltarão sempre para se encontrarem. E, nesse encontro, a liberdade será sempre respeitada por ambos…
O corpo mexe-se. Empresta a fuga de mais um sonho que o amanhecer não consegue decifrar.
Ao acordar, há uma sensação de magia, e um corpo esgotado de uma noite mal dormida.
Resta o sonho. Mais um que entrará no rol dos sonhos impossíveis e em que o segredo será guardado.
Amanhã pela noitinha, na calada, esperarei pelas vozes distorcidas… Viverei num corpo e na espera dessa Musa antiga que alimenta o meu Ser.
Só os sonhos impossíveis permanecem em mim e me fazem viver…