quarta-feira, novembro 12, 2008

Carta ao Monstro

Desperto Monstro, que nas querelas dos teus pensamentos massacras as sombras com prospectos demagogos e uma fugaz insularidade.
Porque te anuncias ao vento contra os que amam a escrita e destróis os caminhos construídos pelas palavras?
Jamais serás indigente para que peças sacrifícios dos demais obreiros deste mundo que se perde a teus pés… Grotesco herdeiro do mal que abunda num terreno espalhado como um nevoeiro apocalíptico que espera pacientemente o seu tempo para desaparecer. Não!
Serás sempre a besta que se esconde nas palavras dos outros, que sorri nos lábios alheios e que morde a sombra da sua própria alma.
Não percebes que tens o tempo contado e que te foge a cada instante?
Não entendes que deixaste de existir aos olhos dos que ainda vivem?
Não tens identidade feita, nem espaço, és eremítico, porque não sabes coexistir. Renegado. Trazes em ti os sabres da morte anunciada. Escorres o sangue, o suor e as lágrimas dos que se esforçam para que o mundo consiga sobreviver.
Não!
Não entendes?
És a tua própria morte assumida, assinalada, erecta, com o condão de seres o termo imutável do desespero e do desacato.
Acorda desse feitiço feito sonho que nunca passará dum pesadelo infame e depravado.
Nasceste Monstro e assim continuarás pelas trevas dos inglórios tempos do além.
Deixa-nos. Inebriado desejo que tens que vives em função de cada passo, que respiras cada palavra com sendo tua. Não vingarás com a atrocidade que alimenta a tua serpente que julgas ser um cérebro, quiçá, só teu… Amaldiçoado seja!
Afasta-te.
Leva contigo a tua morte e convida para essa viagem os malfeitores terrestres que abundam por esta encantada caminhada. Leva-os contigo. Ressurge noutro tempo, noutro local em que os espectros sejam imperantes e existam em compleição igual a tua.
Serás então emergente e ainda assim, bem recebido por essa, que designo de gente…
Se esta carta chegar tarde, que assista ao teu funeral e que regresse com as palavras inebriadas da notícia que ansiamos receber.
Todos por aqui procuram a paz. E não te pensámos capaz.

Vai-te! Ó derradeiro híbrido...


Paraíso secundário, 31 de Janeiro de 1331

2 comentários:

Pedra Filosofal disse...

Um tema original, uma escrita diferente. A qualidade de sempre.
Esta carta ao monstro vem mostrar, acima de tudo, a tua versatilidade. Parabéns

Anónimo disse...

Uma carta espectacular, onde mostras a tua versatilidade na escrita.
Sente-se raiva, alguma desprezo e um pouco de medo pelos sentimentos que passas. Por isso, mais uma vez te digo... Excelente!
Tenho imenso orgulho em ti!
Sabes que gosto muito de ti? Sei que sabes...

Um beijo do tamanho do teu coração