sábado, julho 28, 2012

F.F. de Fogo Fechado

Se FF – Fernando Fernandes é um prodígio no meio artístico nacional e depois de ter entrado na série Morangos com açúcar sobressai agora em A tua cara não me é estranha, programa de destaque aos domingos na TVI, a realidade do país é bem mais incisiva que qualquer programa de entretenimento.
O fogo domina! Apesar de nesta época ser decretado pela ANPC – Autoridade Nacional de Protecção Civil a “Fase Charlie Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais 1 de JUL a 30 SET Alerta Azul”, temos algumas localidades em Alerta Laranja (os alertas são quatro: Alerta Vermelho, Laranja, Amarelo e Azul por ordem de prioridades e gravidade da situação). Todos anos o cenário louco e assustador, repete-se, e nunca há meios, homens ou prevenções suficientes para que se evite ou minore este flagelo de verão. Floresta destruída abraçada à fauna morrem aos olhos do homem, casas perdidas engolidas pelo fogo,  muitas lágrimas e pedidos de ajuda fazem manchetes dos jornais e abertura de noticiários das televisões portuguesas. Há reportagens por toda a parte e o desespero das famílias entra pela nossa casa ao jantar.
É este o país que guarda os dias ora ao som das mais diversas músicas ora ao outro som do crepitar da madeira incendiada.
Mas há um passado que ainda vai sendo o presente, ou um presente envenenado, de um país que não se veste só destas aventuras. Há outras, sempre outras, que se misturam amiúde com o quotidiano dos portugueses. O fecho! Fecham-se hospitais/urgências até porque numa altura de turismo (o melhor de Portugal) ou de incêndios é preciso cortar nestes custos de saúde, como se sabe por um documento que a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) disponibilizou, o Estudo para a Carta Hospitalar, onde até se promove o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa, um local de referência de muitos portugueses que ali nasceram.
Fecham-se escolas, em Agosto de 2011 foi anunciado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC) o fecho de 297 escolas de ensino básico. Atinge-se, assim, sem apelo nem agravo, a nobre classe dos professores. Reduzem horários, retiram ou substituem os professores de carreira e ignoram-se consequências futuras em prol de uma estratégia de anti-crise e pós-trokiana.
Afinal, falamos de passados ou presentes e as escolas preparam o futuro, pura ironia, e assim, também se cortam ou fecham oportunidades aos professores.
Quando se abala duas áreas, saúde e ensino, tidas como bases de uma estrutura elementar para a sobrevivência de uma cultura e identidade própria de um país, que mais se pode esperar? Que esperança se pode ter no amanhã?
Estaremos a fechar Portugal? Estaremos a destruir uma história milenar de sucesso, de exemplo e até de gáudio?
Talvez se atravesse um deserto enigmático e a loucura dos fogos, do desemprego e das constantes adversidades que vamos encontrando pelo caminho não seja mais que uma miragem adornada pela música de fundo que nos leva, devagar, ao acordar de mais um sonho ou pesadelo. Talvez...

Publicado na edição n.º 11 | Ano I

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