Fecho os olhos. Chegou o momento do dia em que saio do meu
corpo para escrever. Olhos. Dedos irrequietos. Mãos emprestadas fazem abrigo. É
a voz do interior que ganha forma e avança. Tudo flui. Tudo é estranho e
rápido. As letras caminham disciplinadas ao som do esgar do pensamento criando
palavras alinhadas que fazem ruas com casas por habitar. Talvez este bairro já
tenha sido cidade. Talvez uma escola ou um rio. Talvez vida. Olhos que desenham
um arquitecto na bravura das sombras que caminham no rosto do tempo. Voz que
aquece a alma com a lenha das vírgulas que não posso usar. Não posso usar.
Tenho este calor e nada me falta. Tenho estes pontos que marcam cada passo ou
cada paragem. Vou devagar. Abro os olhos e começo a ler descobrindo um novo
mundo. Amanhã voltarei a entrar. Olhos fechados e uma vida feita viagem. Uma
noite para adormecer nos teus braços que moram nesse olhar que não dás. Que não
sabes. Tens olhos de fogo. Também tu tens nas vírgulas o mesmo caminho. Pára.
Uma cidade não dá para dois. Um rio não corre. A escola fechou e a luz saiu. Os
olhos são agora a nossa solidão. Adormece devagar. Devagar. De vagar a noite
encheu-se de luz. A lua será sempre a nossa cúmplice. De vagar outro ciclo
aconteceu. Cúmplice. Os olhos... Moram na luz da vontade. Vou indo. Boa noite.
1 comentário:
Devagar
De vagar
A lua será sempre a nossa cúmplice.
Moram na luz da vontade.
Oh Paulo, isto é mesmo muito bonito!
Vou indo agora , mas volto.
:)
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