segunda-feira, agosto 18, 2008

Crónica Sem Título


(Foto de: Marvin Sodicoff)

Somos tantos que amamos a escrita. E somos tantos os que a desprezamos quando, com as palavras que usamos, escolhemos alvos para acertar. Só os que o fazem por amor escapam…
Então, as palavras, ditas nossas, são meros objectos de um ataque feroz e premeditado. Mesmo que usemos essas mesmas palavras com encanto e sensibilidade, o mesmo encanto e sensibilidade que usamos para fomentar a criação dum texto, então, essa razão deixa um vazio frio e quase disfarçado. A arte da escrita serve-nos tão bem!
Iludimo-nos, quando a escrita nos dá um prazer vagaroso e evolutivo, que nos transporta para o impulso de publicar, em lados diversos, a obra de arte que acabamos de fazer nascer. Pura ilusão. Falsa questão. Porque, quando assim acontece, somos o destino dessa arma inventada com artes de malvadez, e, em mesquinhas intenções, e por engraçado ou estranho que pareça, nem sequer damos conta dessa nossa realidade.
E o mundo está cheio de pretensos escritores, que usam armas no corpo da palavra quando deveriam usar flores, que usam guerras na alma da palavra quando deveriam usar a gratidão. A gratidão de terem leitores que os leiam. A gratidão, em forma de amor, por terem quem os siga, dando substrato, ao que escrevem.
Amar a escrita é respeitar quem lê, é ter, como função assumida, o facto de ser o portador da mensagem que é preciso passar. É, principalmente, assumir o seu estado enquadrado no tempo e espaço e também perceber o que isso significa.
Porque, pelo caminho ficam tantos e tão bons escritores, cujo espaço só a eles interessou (cultura do umbigo) ou porque, no seu caminho desviaram todos aqueles que lhes superiorizam, afastando-os quando deveriam ter aprendido com eles…
Opções que, ao longo da história, fizeram toda a diferença e que mudaram o curso da história da literatura.

4 comentários:

Anónimo disse...

Foi um dos melhores textos se não o melhor e também o que mais gostei de ler. Está escrito com alma… carinho… dedicação.
Em poucas palavras.
Simplesmente Adorável !!!
Amei!!!
Parabéns.

Bjs
Laura

Pedra Filosofal disse...

a cultura do umbigo, o quer ser o melhor dos melhores - ou pelo menos acham que o são - leva a que muitos leitores desistam de os ler porque ficam fartos de ser enxovalhados

Marta Vasil (pseud.de Rita Carrapato) disse...

"A arte da escrita serve-nos tão bem!... Amar a escrita é respeitar quem lê..."

Lindo! Concordo em absoluto.

Abraço

MV

Gasolina disse...

Texto forte porque verdadeiro, porque aponta a ferida e o pus.

Mas tenho para mim que quem ama mesmo, e falo dos que escrevem com o pudor que o verbo impõe, serão sempre ricos e bondosos suficiente para encontrar na partilha o que a boca quer do pão.

Um beijo Poeta.