domingo, fevereiro 17, 2008

Na fronteira...


Foto de Ben Goossens


A chuva não pára lá fora. Faz de mim um prisioneiro aqui dentro desta casa de pedra, perdida, entre os campos cultivados. E é da janela que espreito a vontade de fugir desta prisão do sentimento em que a tristeza se apodera das minhas fragilidades para abarcar os meus pensamentos e seduzir a minha vontade própria ainda por se definir!
Nasci para este dia abandonado aos meus propósitos e, de tão só estar, fiquei estático a olhar para esse acontecimento que nem sei o que aconteceu mais…
Estou entre a ilusão e a vida, separado apenas por esta janela que chora por fora e sofre por dentro, porque assim sou e na casa fria há um silêncio cúmplice da tristeza que não parte.
Passam minutos, talvez horas e nada acontece. Nada se mexe. Ninguém se ouve. Apenas o bater da chuva, compassado, faz a melodia deste meu novo dia. A mesma melodia que ritma os meus pensamentos de tortura crescidos de tamanha tristeza…
E é o relógio de sala que me traz a realidade, quando as suas fortes badaladas do meio-dia soam ao despertar para a minha mente abstraída, adormecida.
Corro para a lareira na ânsia de que me ceda o calor que tanto preciso. Arde a ténue esperança da tristeza e as paredes parecem quer sorrir. A janela embaciada parece corar e já não chora.
Começo a acreditar que posso mudar. Que o meu dia e a minha vida podem melhorar. Revisito a janela de perto para poder espreitar o outro meu mundo e descubro um raio solar tímido quase a pedir licença para se aproximar. Crescem as minhas recônditas esperanças em ser um sorridente deste mundo maravilha que ombreia com a outra parte maléfica cheia de oprimidos da desgraça e de corpos que esperam o seu tempo…
Cresço no espaço de um sorriso mais que no tempo da minha incerteza e o desejo pede-me uma melodia… criteriosamente escolho-a: Lara Fabian – Je T´Aime.
Sigo a letra para poder sentir-me como um tolo que estava a ser, e como um soldado que fui, ao combater este meu estado de alma.
E no refrão canto também…Eu te amo! Eu te amo!
A casa grita, é a campainha que toca… Não espero ninguém e o tempo não traz mais que um sol que ilumina a minha aldeia.
Vou à porta, abro-a em par com a esperança redobrada e vejo-te sorrir… A ti, mulher!
Vieste ao meu mundo real da minha aldeia, saindo da minha ilusão, para me abraçares para seres a minha eterna mulher. Renasci neste dia, acompanhado pelos meus desejos mais profundos e pelos secretos devaneios que fiquei extasiado e desejei que a vida nunca acabasse…

7 comentários:

Chellot disse...

De um esmorecer tedioso e frio a um coração aquecido pela presença do ser amado. Lindo!

Beijos de Lua.

Unknown disse...

Um dia que parecia triste... e que acaba de forma perfeita, com a música e a companhia ideal. Tal como mereces!

Beijo

Unknown disse...

Estive a reler o texto pela milésima vez e vim-te dizer que cada vez gosto mais, pela mensagem de força que tem. Quando mudamos a atitude perante a vida, por vezes as coisas que poderiam sere negativas tornam-se diferentes e atraímos mais facilmente o que é bom e nos faz bem.

Mais um beijo

Vera

impulsos disse...

Paulo
Um texto(mais um)... excelente!
Escreves com os sentidos apurados e os sentimentos ali, à flor da pele.É um prazer ler-te e cada vez mais!
E a imagem que escolheste para adornar o teu texto, é linda também.

Renasci neste dia, acompanhado pelos meus desejos mais profundos e pelos secretos devaneios que fiquei extasiado e desejei que a vida nunca acabasse… é o parágrafo que levo comigo... sendo o último, é o que fica mais vivo na memória.

Beijo

Vanda Paz disse...

Passei para te dizer que andei por aqui a ler e reler... os comentários guardo-os para mim...

beijos

vanda

Pedra Filosofal disse...

renasci neste dia... um dia que se iniciou triste e sorumbático e que terminou alegre. E quantas vezes não são assim os nossos dias. Basta às vezes um sorriso, uma palavra e mudamos a nossa maneira de ver e de estar.

Um beijo

Stone

nas asas de um anjo disse...

eis uma prosa mt bem escrita e cheia de profundida emoção...é uma mensagem impregnada de estados de alma que se alteram à força da música, da chuva, da canção e de ti próprio!bjs