quarta-feira, junho 04, 2008

Inquietação


(Foto de: Floriana Barbu)


Esta manhã despertei em tons de um verde-escuro. Triste. Sem forças para me ver renovado, sem olhos de luz de esperança para ver o caminho a minha frente.
Esta manhã não acordei. Recusei-me. Quis concluir o pesadelo de uma noite que assombrou as entranhas do meu ser. Inquietou-me.
Esta manhã soube que morri dentro de mim, ainda que o meu físico não tivesse assumido, ainda que a roupa tivesse vestido o meu corpo…
Ainda que… Morri, no cair da noite, numa queda de amor!
Esta manhã um corpo saiu para trabalhar. Sem amor-próprio nem um rumo definido.
Esta manhã recordei-me de que nunca voltei ao lugar do paraíso, porque enquanto vivi, não tive tempo para repetir os momentos, pequenos momentos, que marcaram a minha passagem pela estrada do sentimento. Não procurei reencontrá-los.
Este dia, primeiro dia após a minha nova vida, ou na falta dela, foi para procurar essa consciência, perdida, ignorada. Encontrei-a tão perto do meu corpo adormecido.
Agora que a noite cai e a escuridão cobre o meu rosto envergonhado, vou viajar aos lugares onde passei apreciados instantes, mínimos instantes, e, com todo o tempo do mundo, vou desfolhar cada décimo de segundo, saboreando a seiva desses escassos abandonos dos lugares perfeitos.
Cada lugar, cada gesto, será sugado pela minha condição arrependida.
Em lágrimas estarei quando recordar as promessas e os sonhos ambicionados e nunca conseguidos. Se pudesse, teria sido diferente…
Queria apenas viver! Queria apenas ser feliz!
Esta manhã acordei com o calor da tua boca junto do meu ouvido e nas palavras que disseste, dancei, sorri. Deste-me num bom-dia a oportunidade de realizar os desejos, os sonhos e lembrei-me de não perder mais tempo. Fugi!
Agora ninguém me vê, ando ocupado, a reconstruir os momentos que perdi. Ando tão junto de ti que nem sentes que morri!

Amanhã na Côrte-real cumpre-se um funeral…

3 comentários:

Anónimo disse...

A vida é feita de instantes, mínimos intantes, que devemos valorizar e aproveitar, porque o tempo não volta atrás e a morte é certa.

Adorei o texto Paulo.
Comovente...

Beijinhos

Anónimo disse...

Em cada manhã acordamos com um tom de cor diferente e a cor com que acordaremos amanhã, será sempre mais bonita que a cor da manhã anterior.
Intenso e lindo texto!

Rita

Pedra Filosofal disse...

Queria apenas viver, queria apenas ser feliz.

Sem felicidade a vida não faz sentido. Quando não me sinto feliz, fico inqueta. Talvez por isso tenha demorado mais que o normal a conseguir ler este texto..